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 Não deve existir no mundo dos vinhos figura mais polêmica do que o crítico Robert Parker, o todo-poderoso americano que faz e desfaz reputações em qualquer canto do planeta. Adorado por alguns e odiado por outros, não há meio-termo em relação a Parker.
Agora, gostando ou não dele, vale a pena ler o livro Robert Parker, o Imperador do Vinho, de Elin McCoy. A detalhada biografia do crítico, prima pela isenção. Elin nunca assume uma posição ou tenta influenciar o leitor a gostar ou desgostar de Parker. Enquanto em uma página ela apresenta suas reconhecidas qualidades, na página seguinte ela não hesita em desfiar o seu lado mais recriminável. Compete a quem lê formar sua própria opinião.
Eu confesso que, antes da leitura, nutria uma certa ojeriza irracional em relação a Parker, devida apenas ao ouvir falar. O livro me trouxe uma visão mais isenta e mais embasada. Eu sei que vou apanhar, mas até uma certa simpatia...
As maiores acusações que seus detratores lhe fazem, a parkerização dos vinhos, a globalização dos estilos, a perda das identidades regionais não são, exatamente, devidas somente a ele. A indústria vinícola mundial, ao perseguir suas contestáveis notas altas, se atirou de cabeça nesse jogo em busca de um lucro mais fácil. Os consumidores são também, em parte, responsáveis. Atire a primeira pedra quem nunca ofereceu um vinho aos amigos ressaltando, com orgulho, os 90 e mais pontos que Robert Parker atribuiu a ele? Parker apenas dá sua nota; a indústria e os consumidores é que o presentearam com uma força inaudita.
Entre seus pontos positivos destacados pela autora estão o inigualável nariz, a inacreditável memória olfativa, a obstinação e a capacidade de trabalhar incansavelmente. Entre os negativos, as vinganças mesquinhas e a destruição da reputação de quem quer que ousasse desafiá-lo, levando mesmo algumas empresas à bancarrota.
Bem, quanto à narrativa, eu achei um pouco cansativa, no início, quando a autora fala sobre a infância, juventude, vida conjugal e até brigas de casal. Mas a partir do momento em que ela começa a descrever o nascimento da Wine Advocate e todo o desenvolvimento da publicação, a meteórica ascensão do crítico, as brigas, os ciúmes, os sucessos, o livro fica deveras interessante.
Uma única linha, em todas as mais de 300 páginas do livro, cita o Brasil. Infelizmente, não nossos vinhos! É quando a autora relata o famoso Affaire Faiveley, um caso que custou um desgaste e várias manchas escuras na reputação de Robert Parker e a perene desconfiança que a Borgonha devota a ele. Em resumo, em seu Parker's Wine Buyer's Guide, o crítico insinua, quase afirma, que o respeitado produtor François Faiveley não distribuia ao mercado os mesmos vinhos que oferecia para a degustação de Parker. E onde entra o Brasil nisso? Bem, é que a autora nos conta que o importador Ciro Lilla, da Mistral/Vinci, foi o primeiro a comunicar a Faiveley sobre a desastrosa insinuação. Bem, não é muita coisa, mas é sempre interessante...
Uma medida que eu tomei enquanto lia o livro - e recomendo a quem pretende ler - foi alugar o filme Mondovino. Muitas das pessoas citadas no livro aparecem no famoso documentário de Jonathan Nossiter e dá um sabor especial você poder colocar um rosto nos personagens da leitura.
Bem, eu comprei esse livro nos Estados Unidos, quando estive lá há dois meses, e paguei US$14,95 (cerca de 30 reais). Aqui no Brasil, ele está a venda pela internet na Livraria Cultura e - pasmem! - custa 86 reais! Não é só o vinho que a gente paga mais caro aqui nos trópicos! Portanto, se você lê em inglês, vale muito mais a pena comprar na Amazon.com, onde ele está em promoção e você vai pagar, com frete e tudo, 43 reais, a metade do que custa aqui. Com o dinheiro que você economizar, compre uma boa garrafa de vinho e faça a festa lendo o livro!
Oscar Daudt |
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