 Península Ibérica
Duda Zagari, da Confraria Carioca, passou a ser o representante exclusivo, para o Rio de Janeiro, dos excepcionais - e caros! - vinhos da Importadora Península. E para celebrar a nova união, convidou um privilegiado grupo de jornalistas e formadores de opinião para um jantar harmonizado com alguns dos novos rótulos que podem ser encontrados na loja do Rio Plaza Shopping. Foram nada menos do que 10 dos mais exclusivos rótulos da importadora, que deixaram os presentes em estado de graça. E de embalada animação...
Fomos recepcionados com o elegante Cava Juvé & Camps Brut 2006, para em seguida passarmos a dois Albariños: o primeiro deles, era o Martín Códax Albariño 2008, bastante floral, seco e fresco, mas foi o segundo, o Martín Códax Pe Redondo Lias 2006 que despertou as mais acaloradas discussões da noite! E por quê? Acontece que na recente prova às cegas de Alvarinhos, promovida por nosso colunista Alexandre Lalas (confira aqui), dentre 14 rótulos degustados, esse vinho amargou um vergonhoso último lugar. Naquela ocasião, houve até participantes que carimbaram uma nota zero(!!!) para o pobre vinho. Mas eu me vi diante de um saboroso exemplar da casta, com boa acidez, frutado, volumoso e que bem lembrava sua battonage de 2 meses e sua crianza de 10 meses em suas lias. Em suma, excelente! Não pude deixar de questionar o Lalas do porquê de tal vinho ter tido uma tão deplorável colocação frente a outros vinhos reconhecidamente mais simples. Lalas explicou que a amostra degustada durante a prova estava defeituosa e que ele pediu a desclassificação junto com outros provadores. A maioria do painel, no entanto, não acatou essa decisão e esse belo vinho foi assim injustiçado! Coisas da vida!
Passamos então para o terreno dos tintos, no qual a Espanha se supera. E o primeiro deles foi o exótico Petit Graeló 2004, cujo nome foi motivo de incontáveis piadinhas. Diferente de tudo que eu já havia provado, só podia imaginar que se tratava daquelas castas de nomes improváveis que o Velho Mundo nos apresenta de tempos em tempos: Esgana perro, Viosiño, Rabo de oveja... Qual o quê! Era um corte das prosaicas Syrah, Merlot e Cabernet Sauvignon que vale a pena conhecer. Sem passagem por madeira, com muita canela, frutas maduras e bastante suavidade, é uma boa pegadinha para uma degustação às cegas, que com certeza irá render as mais disparatadas opiniões de seus amigos sobre um vinho que recebeu 92 pontos do Guia Peñin.
O destaque da noite, para mim, foi o Orben 2005, e olha que as garrafas que o seguiram custavam até o triplo! Um Rioja com um repouso em barricas de carvalho francês por 12 meses, que deixou um carimbo bem integrado ao nariz e ao paladar. Um vinho cheio de exclamações e interjeições, marcante, intenso, com delicioso perfume lácteo, e com frutas para dar e vender. Explosivo feito uma tourada! E foi seguido por um vinho com o mesmo preço, o Finca Villacreces 2004, de Ribera del Duero, elegante, complexo, abaunilhado e ameixado.
O desfile continuou com mais dois representantes da Ribera del Duero, mas de preços bem diferentes: o mais barato - se é que se pode falar assim de um vinho de 249 reais - era o Pago de Carraovejas Crianza 2006 com a madeira bem presente em seus aromas de chocolate e couro, um vinho parrudo e longo; e o segundo era o Alonso del Yerro Maria 2005, encantador em seus aromas de café, ameixas pretas e toques florais, com uma boca macia, intensa, que mereceu 96 pontos do Robert Parker e 95 do Guia Peñin. É mole?
O último tinto, que chegou assustando com sua etiqueta de 643 reais, era o Finca Allende Calvario 2002, um vinho aveludado, gordão e persistente, com complexos aromas de canela, defumado, balsâmico e de frutas secas. Maravilha, mas não é para o bolso dos simples mortais.
E finalizando, como se isso ainda fosse necessário, chegou o Alvear Pedro Ximénez Solera 1927, que para indignação do Javier, eu havia definido, em degustação pretérita, como "meloso feito um puxa-puxa". Claro que eu não sou a pessoa ideal para avaliar um vinho de sobremesa, já que doces e açúcares não são a minha praia. Só que daquela vez, o vinho foi servido a temperatura ambiente carioca e a doçura ficou bastante enjoativa. Desta vez, na temperatura correta, mais fresquinho, eu até gostei. Mas com certeza trocaria, sem pestanejar, por um Orben 2005!
Oscar Daudt |