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Imagine um vinho vivo, leve, de uma acidez vibrante, com aromas de lima, pêssego e damasco, e um delicadíssimo amargor no final. Ao se deparar com um branco assim, pode apostar sem medo de errar: é um alvarinho (ou albariño, se for espanhol). A uva é muito comum na região do Minho, no norte de Portugal, e na Galícia, no noroeste espanhol. Em solo português, pode ser encontrada tanto nos vinhos verdes quanto em brancos maduros. Na Espanha, gera alguns dos mais interessantes brancos do país. A alvarinho não costuma envelhecer muito bem, portanto, é bom comprar a safra mais recente e não convém guardar por muito tempo na adega.

Pois foi a alvarinho, a uva escolhida pela Confraria dos Nove para a primeira degustação às cegas de 2010. Quatorze vinhos feitos com a casta, de quatro países diferentes, participaram da prova. Oito portugueses, quatro espanhóis, um uruguaio e um brasileiro. Embora o ideal seria que todos os rótulos fossem da mesma safra, as colheitas variavam entre 2005 e 2009. E aí cabe uma explicação: como a degustação é voltada para o consumidor, foram provados os vinhos que estão disponíveis nos catálogos dos importadores. O objetivo da prova não era avaliar qual o melhor alvarinho de um determinado ano, mas indicar ao apreciador qual o melhor vinho feito com a uva entre os que estão à venda no mercado do Rio de Janeiro.

A prova foi realizada na loja da Grand Cru, no Jardim Botânico. Além do anfitrião Maurício Kauffman, participaram da mesa os sommeliers Dionísio Chaves, Éder Heck, João Souza, Marcos Lima e Yan Braz; os importadores Aníbal Patrício, Duda Zagari, João Luiz Manso e Lílian Seldin; e os enófilos Fernando Miranda, Luciana Plaas, Roberto Lacerda e o colunista. E no embate entre portugueses e espanhóis, melhor para os galegos. Em primeiro lugar, com boa vantagem, ficou o Lagar de Cervera 2007, seguido pelo surpreendente uruguaio Bouza Alvarinho 2008 e pelo português Portal do Fidalgo 2006.

Abaixo, o resultado final:
 
Vinhos degustados

Vinho da semana
Lagar de Cervera Albariño 2007
Rías Baixas, Espanha
O grande campeão da prova de alvarinhos é uma beleza de vinho. Cítrico, fresco, equilibrado, com aromas de pêssego e lima, e um bom e elegante final. Perfeito com frutos do mar.
Nota: 8,5
Preço: R$ 98
Onde: Zahil (3860-1701)

Barato bom
Portal do Fidalgo 2006
Minho, Portugal
Terceiro lugar na prova dos alvarinhos, o melhor português da degustação. É elegante no nariz, com notas de pêra e um leve toque floral. Na boca, elegante, bom volume, acidez bem marcada e um ligeiro amargor no final.
Nota: 8
Preço: R$ 43,15
Onde: Casa Flora (2224-0826)

Para guardar
Flor de Pingus 2005
Ribera del Duero, Espanha
Peter Sisseck nasceu na Dinamarca. Mas foi fazer vinhos na Espanha, em Ribera del Duero. E que vinhos o escandinavo faz! Este é o segundo vinho da casa. Um assombro. No nariz é intenso, com notas de cassis, mirtilo, baunilha, cassis, chocolate, café. Na boca, é denso, poderoso, mastigável, exuberante, com um final longo e doce. Ainda uma criança, convém esquecer na adega por alguns anos.
Nota: 9,5
Preço: R$ 450
Onde: Grand Cru (2511-7045)
Comentários
José Luis Doldán
Consulado do Uruguay-RJ
Rio de Janeiro
RJ
24/01/2010 Prezados Oscar e Alexandre.

Fiquei feliz, porém não surpreso, com a colocação do Albariño da Bouza. Tem um recitado dos Pampas Cisplatinos que diz algo assim como: "... y me doy por bien pagado, saliendo atrás del Primero".

Sem bairrismo, confesso que tive uma grata surpresa na primeira vez que o bebi, na própria Bouza. O Uruguai não é só Tannat (mesmo eu sendo fã da vitis do Madiran) e tem hoje alguns muito bons Merlots, Pinot Noir e Nebbiolos. É só conferir.

Saudações "celestes".
José Luis Doldán
José Luis Azeredo
Enófilo
São Paulo
SP
24/01/2010 Belíssimo painel, demonstrativo de Alvarinho/Albariño. Para quem os conhece, sabe das idiossincrasias que os afetam, que nesta degustação ficam bem claras. Estas, são a razão de o Alvarinho não ser um branco de maior aceitação mundial.

O que gostaria de saber é:
  • Que método foi usado para classificá-los de 1 a 14?
  • Qual foi a diferença entre o primeiro e o último?
  • Houve grande variabilidade nas avaliações dos degustadores?

    Sem sabermos disto, o leitor/consumidor poderá incorrer no erro de eliminar da sua lista 13 vinhos e ficar só com o numero 1 :D

    Um []
    Azeredo
  • Alexandre Lalas
    Jornalista
    Rio de Janeiro
    RJ
    24/01/2010 Caro Doldán

    Também já conhecia o albariño da Bouza e não me surpreendi com a boa colocação que este vinho alcançou na prova. E você tem razão também quando fala que o Uruguai não é só tannat. Só para lembrar, na prova de nebbiolo que fizemos (confira aqui) ganhou o vinho feito pelo Carrau.

    Caro Azeredo

    Excelentes e pertinentes perguntas. Vamos a elas. Classificamos os vinhos com notas que variavam entre 50 e 100. Analisamos os aspectos visual, olfativo e gustativo. A diferença entre primeiro e último foi grande. Enquanto o vencedor conseguiu 86 pontos de média, o último colocado ficou com pontuação abaixo de 70. As notas dos jurados, ao contrário da maioria das provas que fazemos com o mesmo grupo de degustadores, variaram bastante em alguns vinhos. O que mostra, como você lembrou, a complicação que é avaliar vinhos feitos com a alvarinho.

    Um detalhe: assim como fazemos em todas as provas, eliminamos a maior e a menor nota de cada vinho. Assim, obtemos a melhor média ponderada.

    Para concluir, foi uma prova extremamente enriquecedora, mesmo para apreciadores contumazes de alvarinho, como eu.

    Abraço a todos
    Alexandre Lalas
    Cesar Galvão
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    24/01/2010 Lalas e demais amigos,

    Excelente seleção de albariños, sem dúvida. Também não me surpreendo com a colocação do uruguaio. Há aproximadamente 1 ano, nossa confraria realizou degustação similar, com menos vinhos e o Bouza brigou lá em cima com os melhores galegos, "perdendo" apenas para o Pazo Señorans. Coloquei a palavra perdendo entre aspas pq o vinho ficou em segundo lugar apenas na pontuação, e me recordo bem que o grupo estava encantado com o vinho.

    Para os que quiserem saber quais os vinhos da degustação, confiram aqui.

    Forte abraço,
    Cesar
    Valdiney Ferreira
    L'Orangerie
    Rio de Janeiro
    RJ
    24/01/2010 Olá Lalas,

    Imerso nas delícias do "Imperio do Amor", pensava como seria meu almoço neste domingo quando vi os dados desta degustação do seu grupo. Os frutos do mar com resolução leve e fresca (toques de limão) já estavam decididos, mas o vinho ainda não. Tinha dúvidas entre um Riesling alsaciano e um Alvarinho da terrinha. Mas, como tenho 2 garrafas do Lagar de Cervera Albariño 2007 na adega e com esta dica de peso (o Duda táva lá) porque não mudar a direção?

    Talvez você já saiba, mas no último relatório anual da CVRVV consta que o Alvarinho com 12 milhões de litros exportados entre Jan/Out09 já representa 40% das exportações portuguesas. E o que é melhor, crescendo no rumo EUA que, embora não seja ainda o maior importador, segue firme no encalço da Alemanha (ainda um pouco longe porque os alemães surpreenderam em 2009) mas já deixando os grandes bebedores franceses um pouco distante no retrovisor. Fico pensando a explosão no mundo do vinho se os americanos e alemães o bebessem como os franceses. E se a gente bebesse pelo menos como os americanos também faríamos uma revolução por aqui.

    Falando em Riesling que tal colocar a Alsácia e a Alemanha com o que temos em nosso mercado?

    Falou no Uruguai, lá está presente nosso caro Doldán. E com razão porque, embora pequenino em termos de consumo per capita, está entre os grandes do mundo. É de lá já saem e poderão sair muito mais vinhos "elegantes" na América do Sul. Próximo do Atlântico a leste, com o rio da Prata ao Sul e a Argentina a oeste fica com jeitão próximo ao da Nova Zelandia (considerando apenas a importante variável "clima vitícola" com base nos índices de seca, heliotérmico e de frio noturno). Sem "screwcap" e aqui do lado seria uma maravilha!

    Abcs
    Luiz Otávio Peçanha
    Enófilo
    Piracicaba
    SP
    24/01/2010 Também gosto bastante do Alvarinho da Bouza.

    Surpreendente a posição do Soalheiro Alvarinho 2007, que para mim é um dos melhores Alvarinho de Portugal, e a falta do Pazo de Señorans no painel, um dos melhores Albariño da Espanha.
    Aguinaldo Aldighieri
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    24/01/2010 Fiquei feliz com o 2º lugar do excelente Albariño da Bouza. Bebí-o várias vezes há cerca de um ano em visita à Vinícola Bouza e em refeições no ótimo restaurante Lo De Tere em Punta del Este. Esse vinho parece-me que era o único albariño/alvarinho produzido na América do Sul, até que a Miolo, em parceria com o restaurante Terzetto, lançou recentemente o Edizione Terzetto com uvas da Campanha gaúcha, também com boa colocação na prova.

    Gostei também da boa colocação do Alvarinho Deu La Deu, que tem ótima relação qualidade/preço.

    Aguinaldo
    Fernando Sequeira de Matos
    Enófilo
    Mealhada
    Bairrada
    RJ
    31/01/2010 Caro Lalas

    O Alvarinho para os puristas é produzido em dois pequenos municipios do Norte de Portugal: Monção e Melgaço. Na margem direita do Rio Minho, em Galicia (Espanha), também se produz o mesmo vinho que em Castelhano se escreve Albariño.

    Fora destas regiões é um abuso chamar ao vinho produzido de Alvarinho e em Portugal os Alvarinhos produzidos nos Arcos já são rotulados de Vinhos Verdes por se encontrarem fora da região demarcada dos Alvarinhos.

    Assim a Quinta da Lixa, Òbidos, Ribeira del Duero ou Uruguay não se encontrando na região demarcada dos vinhos Alvarinhos, sub-região do Vinhos Verdes, não produz Alvarinho.

    Em vinhos, temos outros exemplos, como o Champanhe produzido na região do mesmo nome. Outros vinhos produzidos pelo metodo champanhez (ou Tradicional), mas fora da região de Champanhe, se chamam espumantes e por vezes bem melhores que os vinhos de Champanhe e nestes se incluem vários espumantes brasileiros não Champagnes.

    Nas propriedades situadas fora da Região demarcada pode existir um vinho elaborado a partir da casta Alvarinho que é totalmente diferente do produzido em ambas as margens do rio Minho mas não é o Alvarinho original.

    A limitada área origina uma óbvia e limitada produção e assim os produtores introduziram a Trajadura para fazer corte com o Alvarinho e elevar a produção. Alvarinho, o rei dos verdes, só se produz na região demarcada dos Vinhos Verdes.

    Lamento que na prova não tenha sido incluido o Palacio da Brejoeira, notável Alvarinho e na opinião mais do que generalizada de todos os produtores enólogos e enófilos, o melhor Alvarinho.

    O Alvarinho tal como os outros verdes deve ser bebido jovem não sendo vinho de guarda.

    Saudações das boas regiões de vinho do Brasil, onde me encontro desde Novembro, a beber bons espumantes.

    Um abraço
    Fernando
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]