 É NQN ou é Malma?
A Bodega se chama NQN, sempre se chamou NQN e vai continuar se chamando NQN. Portanto, eu não consegui entender quando chegou o convite da Importadora Vinhos do Mundo para uma degustação, no restaurante Miam Miam, dos vinhos da Bodega Malma. E até no catálogo de preços da importadora a vinícola está identificada como Malma. Estlanho, não, Charlie Chan?
Bem, para resolver o mistério, perguntei ao Santiago Bernasconi, gerente de exportações da NQN, que comandava a degustação em um castelhano acelerado, qual era o correto. A explicação é até engraçada. O caso é que a letra Q, quando lida em espanhol, tem o som do mais curto palavrão da língua portuguesa - aquele de duas letrinhas - que não se recomenda pronunciar em um salão repleto de senhoras e mocinhas casadoiras. Precavida, a importadora decidiu então, à revelia, rebatizar a NQN para Malma, que é apenas uma das marcas da bodega. Sei não, acho que isso vai apenas gerar confusão...
Mas nomes a parte, a degustação foi genial. Em lugar de apenas apresentar a vinícola, Santiago foi mais além e apresentou a Patagônia. Ou, mais específicamente, a província de Neuquén. Aprendemos que essa região, como área agrícola, surgiu há poucos anos quando o governo argentino decidiu canalizar a água do degelo dos Andes até lá, e agora virou um grande pomar que, além de vinhedos, possui uma fruticultura altamente produtiva, com cerejas, maçãs e peras.
E explicou, uma a uma, as vantagens desse novo terroir argentino para a vitivinicultura:
em Mendoza, quando ocorre o degelo, a água praticamente respinga dentro dos vinhedos, de tão pertinho que estes estão da montanha. Na Patagônia, a cordilheira fica a mais de 300 quilômetros de Neuquén e ao percorrer esse longo caminho, as águas vão absorvendo os minerais do solo e emprestam essa mineralidade aos vinhos resultantes;chover, quase não chove por lá. E na época da colheita, então, só por milagre;outra característica favorável ao cultivo das videiras é o clima de deserto que oferece uma amplitude térmica de mais de 25°C entre o dia e a noite;o vento por lá é constante e implacável, e com isso a sanidade das uvas é quase absoluta;e, finalmente, a filoxera não chegou por aquelas plagas e as videiras - pelo menos na NQN - são plantadas em pé franco.
Todas essas características se combinam para resultar naquilo que se poderia chamar de nirvana dos vinhedos. E como se trata de uma região recente, as plantas são novas e com isso pode-se esperar uma melhoria constante, ano após ano, na produção vinícola, à medida em que a idade das vinhas for aumentando. Quem viver, verá!
Iniciamos a degustação com um Malma Reserva Sauvignon Blanc 2009, fresco e delicioso, sem aquele caráter vegetal que eu tanto desgosto nos similares chilenos, e que, ao preço de 39,90, é uma excelente opção para o próximo verão. Provamos um Malma Reserva Pinot Noir 2009, um tanto rústico, e um Malma Reserva Merlot 2007, com excessivas notas de compota e muito álcool, que não vão fazer parte da minha adega.
Em compensação, o Malma Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2005, era maravilhoso, aveludado e complexo, bem valendo os 68,80 reais que custa. Mas para quem quiser fazer bonito com seus amigos em uma degustação às cegas, nada melhor do que o sedutor Colección NQN Malbec 2007, que envelhece 12 meses em barricas de carvalho francês novas, para ganhar uma complexidade e uma estrutura invejáveis, derretendo-se na boca e ficando por lá por um bom tempo. Seus amigos não vão acreditar quando você contar que vinho é e de onde ele vem...
Oscar Daudt |