
Eu não conheço a Nova Zelândia, mas tudo o que leio e ouço falar sobre ela é invejável. Com um território quase do tamanho da Itália, o país é praticamente despovoado: enquanto existem 60 milhões de italianos gesticulando, na isolada Nova Zelândia são apenas 4 milhões de pessoas preocupadas com o meio-ambiente, com um terço delas vivendo em Auckland, a maior cidade do país.
Luciana Plaas, que esteve por lá há pouco tempo, contou-me que você viaja, viaja, viaja e não encontra vivalma. Só ovelhas, já que existem 10 desses animais para cada habitante. Mas para minha surpresa, aprendi que a lã já não é mais o principal produto de exportação do país, mas sim os laticínios. E os fissurados dos neo-zelandeses já estão pensando em tributar os fazendeiros tendo em vista que o "escapamento" das vacas é muito poluidor. É sério...
Também já à frente da exportações de lã, a vinicultura é uma indústria em meteórica expansão. Em menos de 20 anos, a Nova Zelândia passou de ilustre desconhecida a um dos países mais importantes no mercado internacional. Com mais de 600 vinícolas atualmente, o sucesso neo-zelandês foi impulsionado pela excepcional adaptação da Sauvignon Blanc a seu território, onde é a casta mais plantada, da qual se produz um vinho vibrante, cristalino, intensamente aromático que muitos críticos de renome consideram como o melhor do mundo, para desespero dos franceses. Na esteira desse sucesso, veio a Pinot Noir, a segunda variedade mais plantada, que oferece uma diversidade de estilos, desde os mais terrosos, até os mais frutados, mas todos eles com muita complexidade, comparáveis aos melhores exemplares da Borgonha.
E foi para esse promissor país que o empresário norte-americano Terry E. Peabody se transferiu, em 1997, quando decidiu investir na vinicultura, com a construção da belíssima Craggy Range (foto acima), na região de Hawke's Bay. Com a parceria do cultuado Steve Smith, implantaram a filosofia de produzir apenas vinhos single vineyard. E atualmente a vinícola produz a estonteante quantidade de 32 rótulos. Desses, a Importadora Decanter traz para o Brasil 8 vinhos (3 brancos e 5 tintos). Mas nós, felizardos convidados para a apresentação dos vinhos no Bistrô 66, ainda pudemos conhecer mais dois rótulos que vieram na bagagem dos produtores.
Não vou nem me referir ao Riesling que abriu os trabalhos, pois o mesmo tinha 42g/l de açúcar residual e, como sabem bem meus leitores, doçuras não são a minha praia. Mas, a seguir, o Te Muna Road Sauvignon Blanc 2009 recolocou as coisas no caminho do sucesso, com um vinho encantador, fresco, cítrico, mineral, diferente de tudo o que eu já havia provado.
Seguimos com 2 Chardonnays: o primeiro com o estranho nome de Kidnappers Vineyard 2008 era de estilo fresco, sem madeira e muito elegante; o segundo, Les Beaux Cailloux 2008, no entanto, foi prejudicado pela temperatura, tendo sido servido a intragáveis 20ºC. Quando reclamei com o produtor, esse me disse que era para ser assim mesmo, servido a temperatura ambiente, mas acho que ele não contava com a amenidade do inverno carioca. Foi uma pena...
Seguimos com dois exemplares da uva tinta emblemática da terras dos kiwis: a Pinot Noir. Quando chegou o primeiro, Te Muna Road Pinot 2008, eu me encantei tanto com sua intensidade e maciez, aliadas a notas terrosas e frutadas, que Lalas, a meu lado, recomendou não gastar toda o meu entusiasmo com esse vinho, já que o seguinte, Aroha 2008, é que era o vinho superior dessa casta. Mas eu gostei dos 2 igualmente e o produtor explicou que o primeiro estava pronto para beber, enquanto o segundo bem mereceria uma guarda de mais 10 anos.
Para colocar a cerejinha na degustação, chegou o mais aclamado vinho da Craggy Range, o Le Sol 2007, um 100% Syrah, que amadurece 20 meses em barricas francesas, metade delas novinhas em folha. Nariz e paladar intensos, com extrema suculência e longa permanência. Maravilhoso! Pena que é caro...
Oscar Daudt |