
Uma conversa muito especial |
À convite da importadora Vinhos do Mundo, estive num jantar harmonizado no Quadrucci, no Leblon, com os vinhos de Mario Geisse, o mais respeitado produtor de espumantes do Brasil e não menos festejado enólogo da chilena Casa Silva. Foi uma noite e tanto, pois além dos novos vinhos, experimentamos a bela e deliciosa cozinha do chef Ronaldo Canha. E a harmonizar os dois, as habilidades de Lauro Carvalho, que assina a carta do restaurante.
Era a noite de lançamento do Casa Silva Reserva Viognier 2010, um vinho com discreta madeira (apenas 35% estagia 3 meses em carvalho francês), alto teor alcoólico de 14,5% e com o nariz característico dessa caprichosa casta do Rhône: flores e damasco. O vinho custará ao consumidor final cerca de 60 reais. Seguimos com o elegante Casa Silva Reserva Pinot Noir 2010 e, em seguida, com o Casa Silva Los Lingues Gran Reserva Carmenère 2008, que mostra como essa casta, no Chile, quando bem tratada, pode resultar em um vinho exuberante, aveludado e harmonioso.
A noite foi finalizada com o Casa Silva Cosecha Tardia Sémillon Gewürztraminer 2009, mas é desnecessário dizer que nem o provei.
No entanto, para mim, o mais importante da noite foram as novidades trazidas por Mário e seu filho Daniel sobre a revolução verde que está acontecendo na viticultura brasileira.
Desde 2008, a Vinícola Geisse vem empregando em seus vinhedos a tecnologia TPC - Thermal Pest Control, criada no Chile pelo empresário Florencio Lazo, meio que por acaso, como muitas das descobertas do mundo aconteceram. Ao desenvolver uma máquina para combater as geadas, Florencio se deu conta de que essa mesma tecnologia servia para combater as pragas e fortalecer as plantas.
 A TPC lança um jato de ar quente, de 120ºC a 150ºC, à velocidade de 120km/h. Como resultado, o jato elimina fungos, bactérias e insetos sem prejudicar as plantas. Pelo contrário! O ar quente desperta a resposta do sistema imunológico da videira, tornando-a mais vigorosa, mais verde, mais resistente e ainda de quebra, aumentando os níveis de resveratrol nas uvas. E, melhor ainda, essa tecnologia é mais barata do que o emprego dos tão assustadores e daninhos defensivos agrícolas, que tanto prejuízo trazem à saúde humana e ao meio ambiente. Parece um sonho... e é!
Mario, chileno como a tecnologia, trouxe a idéia para o Brasil, onde hoje o equipamento é fabricado. Pioneiro na utilização do processo, em 2008, já no ano seguinte emprestou as máquinas para a Lidio Carraro, que fornece uvas para sua vinícola, e para a Dunamis, onde é consultor. A enóloga Monica Rossetti, da Lidio Carraro, conta: "A safra de 2010, que teve sérios problemas climáticos, foi a nossa melhor safra graças a esta nova tecnologia."
O sistema está agora bem disseminado e no Rio Grande do Sul importantes vinícolas já o utilizam, como Miolo, Don Giovanni, Perini, Don Guerino, Chandon e muitas outras mais. Em Santa Catarina, são usuárias as vinícolas Suzin, Quinta da Neve, Pericó, dentre outras. Mas é no nordeste, em Petrolina, que a utilização está mais difundida para a produção de frutas em geral, já que o sistema não é exclusivo para a cultura da uva.
Mario, cheio de orgulho, anuncia que seus espumantes da safra 2008, a serem lançados no meio do ano, serão os primeiros a chegar ao mercado sem a utilização de defensivos químicos. Mas a Dunamis já lançou um vinho branco de uvas tratadas com essa tecnologia, o Dunamis Ser Chardonnay-Sauvignon e o primeiro tinto foi o Lidio Carraro Dádivas Pinot Noir.
Oscar Daudt |