
Durante as escavações para a construção da bodega da Familia Schroeder, da Patagônia, foram encontrados ossos de um Titanossauro, um dos maiores dinossauros conhecidos e que viveu naquela região há muitos milhões de anos. Tal achado inspirou a vinícola a batizar uma linha de seus vinhos de Saurus e estampar a figura estilizada do animal em seus belos rótulos. É um nome de grande apelo! E os visitantes que chegam à moderníssima bodega (foto ao lado) podem visitar esse achado arqueológico exposto em uma adega especialmente construída para exibir as relíquias.
Mas nós não precisamos ir tão longe assim para conhecer os pequenos Saurus que foram apresentados no Chez L'Ami Martin, no Leblon, à convite da Importadora Decanter: dos 8 vinhos degustados, 7 deles homenageavam o bichano.
O Sauvignon Blanc da discórdia |
Quando o primeiro vinho foi servido, Célio Alzer e Paulo Nicolay, ambos a meu lado, foram taxativos: "Que belo Chardonnay!". Eu que já havia lido o programa de vinhos, corrigi: "É um Sauvignon Blanc." A incredulidade tomou conta dos dois, que chamaram o sommelier antes de acreditar em mim. A essa altura do campeonato, eu ainda não havia provado o vinho.
Confesso que ando cansado dos Sauvignon Blanc sul-americanos com seus exagerados aromas e o caráter excessivamente vegetal que no segundo gole já dá vontade de desistir. Mas quando provei o Saurus Sauvignon Blanc 2009, fiquei encantado: nada nele deixava prever que era essa casta. Era um vinho carnudo, intenso, persistente, com aromas de mel, amanteigado e com a elegância de um francês. E tudo isso sem passagem em madeira. Um show! Mas um vinho sem controvérsias não é um vinho. E enquanto Célio, Paulo e eu tecíamos loas à qualidade do mesmo, eis que levanta-se Euclides Penedo Borges e diz que o vinho era muito leve, ligeiro e carente de acidez. Mas a polêmica foi pequena, pois Euclides foi voto vencido e a maioria dos presentes já estava com a carteirinha do fã-clube. Principalmente, depois de saber que ele custa 28 reais (preço para restaurantes). É um verdadeiro achado!
O Chardonnay da safra errada |
Quando chegou a vez de degustar o Saurus Patagonia Select Chardonnay, mais polêmica. Eu fotografei uma garrafa fechada e vi que a safra era 2006 e comentei como um vinho dessa idade estava tão novinho. Célio rebateu: "Não é 2006, é 2008!" Para provar que eu estava certo, mostrei a foto a ele, onde se via claramente o ano de 2006. Depois de alguma averiguação, concluiu-se que a garrafa da foto era a única de 2006 que estava lá por engano e todas as demais que estavam sendo servidas eram de 2008.
Mas enófilo que é enófilo não deixa passar uma oportunidade como essa de fazer uma vertical e pedimos para servir o 2006. O 2008, eu achei o nariz muito apagado e em vão tentei esquentar para ver se o problema era a temperatura. Pelo jeito, não era... Mas o 2006 era outra coisa: aromas lácteos e com flores e frutas para dar e vender. Muito mais encorpado do que seu colega mais novo, era cremoso e demorado. Uma pena que havia só uma garrafa!
Tintos para todos os gostos |
A sequência de tintos apresentou ótimas alternativas. O Saurus Patagonia Select Merlot 2007, baratinho (R$37,20), tinha muita fruta e maciez. O Saurus Barrel Fermented Malbec 2008 trazia aromas de baunilha e framboesa com uma textura aveludada e muito mais elegância do que os Malbec mendocinos. E o top da vinícola, o Familia Schroeder Cabernet Sauvignon 2005, era carnudo, longo e com uma explosão de frutas. E para finalizar, um esquisito Saurus Pinot Noir Tardio 2008, em que as uvas são deixadas para passificar no próprio pé. Não resisti a provar, pela primeira vez, um colheita tardia dessa casta. Mas confesso que não fez muito a minha cabeça...
No cômputo geral, fiquei admirado com a qualidade dos vinhos apresentados e com os atraentes preços, que entregam muito mais do que custam. E olha que essa é uma vinícola nova, seus vinhedos foram plantados apenas em 2001 e os primeiros vinhos foram comercializados em 2005. O projeto é ainda um bebê! Dá para prever um futuro mais do que brilhante para eles. E para nós, os consumidores, muitas alegrias!
Oscar Daudt |