
Em maio último, durante viagem ao norte da Itália, tivemos a oportunidade de visitar a espetacular Pio Cesare, tradicional e respeitada vinícola que fica localizada praticamente no centro de Alba, a dois passos da praça do Duomo. Instalada em um prédio histórico, com caves seculares e paredes que aproveitam muros do tempo dos romanos, a visita é imperdível!
Durante o almoço oferecido pela Decanter, para apresentação dos vinhos da Pio Cesare, contei ao produtor Pio Boffa de nossa visita, e ele perguntou como havia sido. Para implicar, disse que fora "quase perfeita", reclamando que não tinha conseguido provar o Piodilei 1989, o famoso Chardonnay que abundava nas empoeiradas prateleiras, e que apesar de todos os meus apelos, não nos foi oferecido. Disse que gostaria de provar em próxima visita, mas não adiantou: o jogo duro continuou e não consegui obter nem um esboço de promessa. Pelo jeito, vou morrer sem provar esse vinho.
Mas não dá para reclamar da visita, pois provamos Barolos e Barbarescos inesquecíveis, aí incluído o sedutor Barolo Ornato, do qual trouxe 2 garrafas na mala.
No almoço do Gero, pude matar as saudades dos vinhos e conhecer outros rótulos ainda não degustados. No terreno dos brancos, dois Chardonnays, ambos plantados na zona de Barbaresco: o L'Altro 2009 em que apenas 25% do vinho estagia em madeira por 5 meses, preservando o frescor e a fruta, enquanto que o badalado Piodilei 2008, amadurece todo ele por 10 meses em barricas novas de carvalho francês, resultando em 9.000 garrafas de um vinho bem ao estilo borgonhês, com elegância, untuosidade e mineralidade que atiçam as papilas!
Quando recebemos uma taça do Barbaresco 2006 e do Barolo 2006, eu caí na asneira de perguntar ao produtor se aquele era o Barolo "básico", em contraposição ao Barolo Ornato. Prá quê? Um nada piedoso Pio se armou de uma faca e avançou contra mim, esbravejando que não existem Barolos básicos e que todos eles são especiais. Mas eu acho que ele estava brincando... Daí, Pio Boffa passou a descrever sua visão daquilo que diferencia os Barbarescos dos Barolos: apesar de terem tudo igual - mesma casta, mesmo processo de vinificação - os primeiros são perfumados, aveludados e femininos, enquanto que os segundos têm maior estrutura tânica, mais poder e um lado mais "macho".
Mas bom mesmo foi acompanhar a refeição com os magníficos - e não básicos - Barbaresco Il Bricco 2006 e Barolo Ornato 2006, que partem para um estilo mais moderno, com muita fruta, maior potência mas ainda com uma madeira elegante e bem integrada. Um espetáculo que me fez pensar por quanto tempo ainda terei paciência de guardar as 2 garrafas de Ornato que costumam se refestelar em minha adega.
E quando eu pensei que já havia terminado o desfile, eis que o produtor nos surpreende com uma garrafa magnum de Barolo Ornato 2007, que ele havia trazido embaixo do braço. É um vinho recém-lançado, ainda não disponível no Brasil, e fomos os primeiros sul-americanos a provar dessa excepcional safra, que teve baixo rendimento e alta qualidade. Se o 2006 era encantador, o 2007 era como um pretérito: mais-que-perfeito. Macio, opulento, gordo e cheio de frutas, estava já mais pronto do que a safra anterior. Grandioso!
Não tem nada a ver com a Pio Cesare, mas não posso deixar de contar que, antes do almoço, Adolar Hermann nos ofereceu sua nova aposta, o espumante Hermann Bossa Nº1, um Brut Charmat elaborado no Vale dos Vinhedos, sob a supervisão da Decanter. A linha se completa com os números de 2 a 4: Demi-sec, Rosé e Moscatel. Mas ainda melhor do que isso, dentro de mais 3 meses, será lançado o espumante Hermann Lírica, método tradicional, elaborado com a consultoria do cultuado enólogo português Anselmo Mendes e com o curioso corte de Chardonnay e... Gouveio, a casta portuguesa caracterizada por alta acidez e caráter cítrico, que deve fazer uma boa parceria com sua companheira de corte.
Eu nem sabia que se plantava Gouveio no Rio Grande, mas Adolar explicou que essas uvas são provenientes de um empreendimento português na parte sul do estado, em Pinheiro Machado, área não tradicionalmente vinícola, que foi comprado por ele.
O importador, que já contava com sua Quinta da Neve, em Santa Catarina, agora soma a sua carteira os espumantes gaúchos, com uma aposta pesada de qualidade e inovação. Eu, muito feliz, falei ao Adolar e repito aqui para que todos saibam o que penso: "O aspecto que mais me entusiasma é ver que um dos maiores e mais importantes importadores do Brasil está investindo forte na produção de vinhos nacionais." Isso é prá lá de emblemático e encorajador!
Oscar Daudt |