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Portugal

À caminho de Estoril
Em fevereiro do ano passado, a convite da importadora Adrimar, estive em Lisboa para participar da SISAB, a maior feira de alimentos e bebidas de Portugal. Para uma das noites do evento, a programação era um grande jantar-show no Casino Estoril. No ônibus que nos levou até lá, sentei-me ao lado de um inglês simpático e bem falante - falante em português! - e conversamos bastante. A bem da verdade, ele conversou bastante e eu escutei muito...

Contou-me que era um produtor de vinhos no Alentejo, de uma vinícola chamada Fita Preta que elaborava os vinhos Sexy. Eu nunca tinha ouvido falar desses rótulos, muito embora ele tenha me dito que eles estavam no mercado brasileiro, com excelente aceitação. De qualquer forma, fiquei até com uma certa reserva pela estranheza do nome. Ao final da viagem, trocamos cartões e mais tarde nos tornamos amigos virtuais pelo Facebook. Tratava-se de David Booth...

Por uma dessas coincidências da vida, dois meses depois fui convidado para uma degustação dos vinhos da Fita Preta aqui no Rio de Janeiro (clique aqui para recordar). Quem veio de Portugal para apresentá-los foi o inquieto enólogo António Maçanita, sócio de David no empreendimento. Os vinhos eram fantásticos, demonstrando o acerto da parceria entre os dois: Maçanita cuidava da enologia e o inglês caprichava nas vinhas.

Mas essa parceria de sucesso vigorou até a semana passada apenas, quando a notícia da morte prematura de David, aos 47 anos, pegou a todos de surpresa e me deixou bastante triste.


Nunca antes na história daquele país...
Como homenagem a David, abri semana passada um Fita Preta Branco de Tintas, vinho alentejano que comprei mais recentemente em Lisboa, por €11,50 (cerca de 29 reais), na loja Napoleão da Rua dos Fanqueiros, 70 - Baixa.

O vinho não é safrado, mas a página da vinícola informa que ele foi elaborado em 2008. O incontrolável Maçanita vinifica em branco um corte das uvas Alfrocheiro e Trincadeira, sacudindo o conservadorismo português. A fermentação se dá em barricas de carvalho francês, de segundo e terceiro uso, aí permanecendo por mais 12 meses sobre as lias, com batonagem semanal. A graduação alcoólica é um mistério, pois a página Internet da vinícola informa que são 13,5%, enquanto o rótulo a contradiz com 12,5%. Fico mais inclinado em acreditar nesse último valor...

Primeiro vinho assim elaborado em Portugal, já me conquistou pela belíssima cor, um amarelo com tons rosados que eu consegui reproduzir fielmente na foto ao lado... No nariz, de caráter bastante mineral, a madeira aparece com muita discreção, acompanhada de flores, abacaxi e notas de cânfora. Mas é na boca que o grande esmero com que o vinho foi elaborado sobressai. Uma espetacular acidez faz o contraponto à textura corpulenta, dando um equilíbrio invejável. E tudo termina lentamente, deixando um gostinho de chocolate branco e de quero-mais.

É um vinho surpreendente e delicioso, bem apropriado para fazer pegadinhas em taça preta com os amigos. Por enquanto, ainda não está disponível em nossas prateleiras, mas Duda Zagari, da Confraria Carioca, já providenciou a importação e deve recebê-lo nas próximas semanas. Disse-me ele que o vinho "ficará abaixo de 100 reais". Vamos torcer para que fique bem abaixo!

Oscar Daudt
02/05/2012
Comentários
Duda Zagari
Confraria Carioca
Rio de Janeiro
RJ
09/05/2012 Grande Oscar! Se pagaste 11,50 Euros, esse vinho deveria custar cerca de 120 a 150 reais no Brasil. Estou bem barateiro... hehehe

Bjo, Duda
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