Morgante |
A Morgante é uma pequena vinícola familiar siciliana que iniciou a produção de seus próprios vinhos em 1994. Com produção de cerca de 200.000 garrafas por ano atualmente, a vinícola se caracteriza por elaborar, unicamente, vinhos a partir da casta Nero d'Avola, o grande emblema da ilha. E, não obstante, em sua linha de produtos encontram-se dois atraentes e estruturados rótulos brancos, blancs de noirs.
Apostanto na qualidade, a vinícola contratou como enólogo ninguém menos do que Riccardo Cotarella, uma dos nomes mais prestigiados da vinicultura italiana. Os resultados mostram o acerto da decisão, com as vezes com que seu vinho ícone - Don Antonio - vem recebendo os cobiçados tre bicchieri da Gambero Rosso na maioria de suas safras. Eu fiquei entusiasmado com a potência e a maciez desse tinto extraordinário e voltei para casa com duas garrafas: uma magnun 2008, que me foi presenteada, e um exemplar da excelente safra de 2001.
A recepção dedicada pela família a nosso grupo foi inigualável. Além do respeitável Don Antonio, patriarca da família, junto com Dona Maria Morgante, lá estavam para nos receber o filho Carmelo, sua mulher Maria Rosa e o pequeno Antonio que com seus 8 anos desempenhava um papel atuante na apresentação da vinícola, mostrando o conhecimento que possui sobre os processos de produção. A continuidade da empresa está garantida... No almoço harmonizado com os belos rótulos da casa, a família fez questão de apresentar as melhores especialidades gastronômicas sicilianas, preparadas pelas competentes mãos de Dona Maria e sua nora. Foi, confesso, emocionante...
No Brasil, esses vinhos são importados pela Ravin e, como Grimberg não perde a oportunidade de lembrar, estão à venda nas lojas Bergut. |
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Os vinhos e o azeite da Morgante |
O próprio Don Antonio, patriarca da família |
Grimberg entrega a placa comemorativa à família reunida: Maria Rosa, Carmelo, o pequeno Antonio e D. Maria Morgante |
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Os típicos arancini: bolinhos de arroz recheados |
Queijos sicilianos |
Caponata |
Planeta |
A Planeta é uma das gigantes da Sicília, com produção de mais de 2 milhões de garrafas, distribuidas por 6 aziendas localizadas em diversos locais da ilha. Na classificação de vinícolas do Gambero Rosso é a mais bem posicionada da região, com duas estrelas e 22 pontos, o que atesta a excelência de seus vinhos. Visitamos a unidade Tenuta dell'Ulmo, que fica perto da cidade de Sambuca di Sicilia.
Na degustação que nos foi oferecida, tivemos a oportunidade de entender a razão do sucesso. Dos dois brancos servidos, sobressaiu-se o Cometa 2009, um vinho espetacular, elaborado com uma casta alienígena à Sicília: 100% Fiano. No primeiro dia, em um almoço em Taormina, bebemos a safra 2007 desse vinho, que possui excelente capacidade de envelhecimento e que deixou entusiasmados todos os presentes. Eu comprei duas garrafas de 2009 e pretendo deixá-las repousar por 2 anos para reviver as deliciosas sensações que esse vinho nos trouxe.
Os tintos também deram um espetáculo: o Plumbago 2010, 100% Nero d'Avola, ainda estava muito novo, mas tanto o Syrah Maroccoli 2008 quanto o Burdese 2006 (bordalês, no dialeto local) , 100% Cabernet Sauvignon eram excelentes.
No entanto, após o carinhoso tratamento que tivemos na Morgante, a visita à Planeta foi um choque: recepção fria, quase chegando às raias da antipatia. Nossa anfitriã, Chiara Planeta, não conseguia disfarçar seu enfado. E o almoço que nos foi oferecido era de ruborizar qualquer italiano: medíocre, mal servido e acompanhado pela linha de vinhos mais básica da casa. Nosso grupo, como um todo, não perdoou e classificou essa visita como a pior de toda a viagem.
Os vinhos da Planeta são importados aqui no Brasil pela Interfood. |
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Alastro 2010
Produtor: Planeta
Castas: Grecanico
Denominação: IGT Sicilia
Álcool: 12,5% |
Cometa 2009
Produtor: Planeta
Castas: Fiano
Denominação: IGT Sicilia
Álcool: 13,5% |
Plumbago 2010
Produtor: Planeta
Castas: Nero d'Avola
Denominação: IGT Sicilia
Álcool: 13,5% |
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Syrah Maroccoli 2008
Produtor: Planeta
Castas: Syrah
Denominação: IGT Sicilia
Álcool: 14,5% |
Burdese 2006
Produtor: Planeta
Castas: 70% Cabernet Sauvignon, 30% Cabernet Franc
Denominação: IGT Sicilia
Álcool: 14,7% |
Os vinhedos se projetam até o lago Arancio |
Donnafugata |
A Donnafugata, vinícola localizada na cidade de Marsala é uma das grandes produtores da Sicília, engarrafando cerca de 2,7 milhões de garrafas ao ano. Para mim, o que mais me encantou foi o branco Chiarandà 2006, um corte de Arsonica (Inzolia) e Chardonnay, com uma estrutura gigantesca, um equilíbrio perfeito, muita acidez e mineralidade. Mas nem foi na visita que provamos esse vinho, mas em um dos jantares que tivemos por lá.
No terreno dos tintos, destacam-se o Tancredi 2008, corte de Nero d'Avola com um pouco de Cabernet Sauvignon, elegante e condimentado, e principalmente o exótico Mille e una Notte 2007, um Nero d'Avola em sua pureza, concentrado, poderoso, frutado e muito demorado. E os apreciadores de vinhos de sobremesa ficaram entusiasmados com o Ben Ryè, um Passito de Pantelleria, 100% Zibibbo (ou, mais claramente, Moscato de Alexandria) e entraram em guerra para ficar com minha taça.
Além dos vinhos especiais, tudo na visita à Donnafugata foi perfeito. Um almoço requintado, com inúmeras etapas, e assinado pelo chef Nino Chirco, do restaurante "il Bucanieri", de Marsala. Um verdadeiro espetáculo de alta gastronomia com ingredientes puramente locais. E na bela sala de almoço tocava, discretamente, um disco gravado por Josè, a herdeira da vinícola e cantora profissional, com músicas de bossa nova, em nossa homenagem.
Mas o que mais despertou os bons fluídos foi nossa anfritriã, uma letã com um nome indizível, Zane Zvirgzda, que parecia ter engolido uma bateria de 12 volts para alimentar seu entusiasmo, simpatia, conhecimento, deferência e alegria. Fez toda a diferença! E a soma de todos esses fatores levaram os participantes a escolher esse almoço como o melhor da viagem, com a impressionante média de 9,5.
No Brasil, os vinhos da vinícola são importados pela World Wine. |
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Lighea 2011
Produtor: Donnafugata
Castas: Zibibbo
Denominação: IGT Sicilia
Álcool: 12,5% |
La Fuga 2010
Produtor: Donnafugata
Castas: Chardonnay
Denominação: DOC Contessa Entellina
Álcool: 13,5% |
Sherazade 2011
Produtor: Donnafugata
Castas: Nero d'Avola
Denominação: IGT Sicilia
Álcool: 13,5% |
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Tancredi 2008
Produtor: Donnafugata
Castas: 70% Nero d'Avola, 30% Cabernet Sauvignon
Denominação: IGT Sicilia
Álcool: 14% |
Mille e una Notte 2007
Produtor: Donnafugata
Castas: Nero d'Avola
Denominação: DOC Contessa Entellina Rosso
Álcool: 13,5% |
Ben Ryè
Produtor: Donnafugata
Castas: Zibibbo
Denominação: DOP Passito di Pantelleria
Álcool: 14,5% |
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Gamberoni reali e gamberetti con frutta fresca e carciofi |
Busiate con pomodorini, capperi, mandorle e bottarda di tonno |
Polpetta di tonno con salsa e menta |
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Stracotto di manzo in Mille e una Notte con verdure grigliate e patate al rosmarino |
Macedonia di frutta di stagione |
Chef Nino Chirco, do restaurante "il Bucanieri", de Marsala |
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O salão do almoço |
Milleanni, o azeite da Donnafugata |
Grimberg homenageou nossa anfitriã, Zane Zvirgzda |
Florio (Duca di Salaparuta) |
Segundo maior grupo vinícola siciliano - só perdendo em produção para a Cooperativa Settesoli - a Duca de Salaparuta é composta por 3 aziende: a própria Duca di Salaparuta, a Corvo (presente em quase todos os supermercados brasileiros) e a Florio, localizada na cidade de Marsala, produzindo apenas vinhos dessa mesma denominação. Foi essa última que nós visitamos.
Eu - e acho que grande parte da torcida do Flamengo - pensava que Marsala eram apenas vinhos doces, mais utilizados para elaborar Escalopinho ao molho Marsala. Qual o quê! Nossa anfitriã, a cativante Sara Montalbano, nos proporcionou uma verdadeira aula sobre essa denominação, onde pude aprender que existem diversos tipos desse vinho: são três vinhos doces - Fino, Superiore e Superiore Riserva - e, no topo da pirâmide de qualidade, dois vinhos secos: o Vergine (no mínimo 5 anos de envelhecimento) e o Vergine Riserva (no mínimo 10 anos de envelhecimento). Eu experimentei esses dois últimos e fiquei vivamente impressionado, pois lembram muito um Jerez Oloroso. São absolutamente memoráveis e eu trouxe uma garrafa da safra 1997 dentro da mala.
Foi interessante saber como se elaboram os Marsala secos. Simplesmente, acrescenta-se aguardente vínica ao vinho base pronto e - voilà! - é só esperar 5 ou 10 anos. Muito embora o Conselho Regulador permita a utilização de 4 castas - Grillo, Insólia, Catarrato e a desconhecida Damaschino - a Florio elabora seus vinhos com a utilização apenas da Grillo, considerada a melhor dentre elas.
Mas, atenção: a vinícola exibe no rótulo da garrafa um ano muitas vezes impressionante: por exemplo 1840, 1926 e por aí vai... Mas não se deixe enganar, esse ano em destaque é apenas a data em que o vinho foi lançado no mercado pela primeira vez, não tendo nenhuma relação com a safra. Aliás, muito embora se possa elaborar os Marsalas no sistema de "Soleras", a Florio optou por elaborar apenas vinhos safrados.
Aqui no Brasil, os vinhos estão divididos por dois importadores: enquanto os vinhos da Duca di Salaparuta e da Corvo são trazidos pela Bruck, os Marsalas da Florio estão na carteira da Franco-Suissa. |
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Terre Arse 2000
Produtor: Florio
Castas: Grillo
Denominação: Marsala Vergine
Álcool: 19% |
Brut Riserva NV
Produtor: Duca di Salaparuta
Castas: Grecanico e Chardonnay
Denominação: Vino Spumante di Qualità
Álcool: 12% |
Calanica 2011
Produtor: Duca di Salaparuta
Castas: Inzolia e Chardonnay
Denominação: IGT Sicilia
Álcool: 12,5% |
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A imponente sala de degustação da vinícola |
O museu de garrafas históricas |
Interessante saber que, durante a Lei Seca americana, a Florio exportava os Marsalas em "embalagens hospitalares" que recomendavam "beber 1 dose 2 vezes ao dia" |
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Shrimp with rocket and parmesan cheese, swordfish carpaccio |
Hand-made pasta with crustacean sauce |
Lemon grouper, grilled prawns and stuffed vegetables |
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Salada de frutas |
Grimberg homenageia nossa anfitriã Sara Montalbano |
Exposição no salão do almoço |
Taormina |
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A bela enseada de nosso hotel |
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O hotel Villa Sant'Andrea |
A típica cerâmica siciliana |
As improváveis cidades no topo dos penhascos |
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As laranjas são vermelhas |
A Trinachia é o simbolo da Sicília |
Uma ruela de Taormina |
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O imperdível Teatro Grego |
As águas azuis da Sicília, vistas do alto do Teatro |
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Com o Etna fumegando ao fundo, a vista de Taormina a partir do Teatro Grego |
Jantar no Grand Hotel Timeo, de Taormina |
Há cerca de dois meses, Cristiana Beltrão publicou aqui no EnoEventos uma excepcional matéria sobre um jantar no Grand Hotel Timeo harmonizado com uma grande erupção do Etna (clique aqui para recordar). Portanto, nossas expectativas eram de vivenciarmos a mesma insólita experiência.
E naquele ambiente maravilhoso, com uma mesa no terraço e uma vista indescritível de Taormina à noite, meus olhos não se desgrudavam do poderoso vulcão. Eu esperava, pelo menos, um pequeno espirro de lava. Mas, qual o quê! O Etna não se pronunciou, apenas expelindo fumaças que alimentavam nossas expectativas...
O jantar em si foi bom, mas nada excepcional, e o grupo o posicionou numa modesta 6ª colocação na classificação de restaurantes. |
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Amuse bouche |
Sformatino di melanzane con ricotta salata e foglie di basilico |
Trofie con vellutata di pistacchi di Bronte e gambero rosso di Mazara |
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Rosette di vitello con salsa ai carciofi |
Cassata siciliana |
Da varanda do restaurante, admirava-se o Etna que, no entanto, ficou mudo... |
Jantar na Locanda Don Serafino, em Ragusa |
A Locanda Don Serafino é detentora de uma estrela Michelin. O salão é escavado na pedra, com uma iluminação dramática e mesas e cadeiras transparentes para não interferir no ambiente. A comida mostra a que veio, com pratos que misturam os ingredientes da ilha com a criatividade do chef. Todos os participantes, sem exceção, concordaram que foi a melhor cozinha da viagem.
Como então o restaurante ficou posicionado no terceiro lugar apenas? Graças ao serviço. Para atender as quatro mesas ocupadas pelo nosso grupo havia apenas um sommelier e apenas uma carta de vinhos. A confusão foi generalizada e até os vinhos chegarem a nós, passaram-se bem mais de 45 estressantes minutos. E o sommelier, esquecendo suas obrigações de gentileza, chegou a ser agressivo com dois de nossos companheiros. Uma vergonha que não está à altura de uma cozinha tão especial. |
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Ricciola lievemente affumicata con insalatina in fiore e salsa aromatica |
Millefoglie di pollo ruspante al timo limoncino panelle e maionese alla senape rustica |
Minestra con pasta mista di Grangano con cernia cozze, zenzero in agrodolce e basilico |
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Suino nero dei Nebrodi brasato al Nero d'Avola, crema de patate al limone ed erbe di campo |
O vinho de destaque da noite: o Gravner Ribolla Anfora 2002. Fantástico! |
O belo restaurante é escavado na pedra |
O Duomo de Monreale |
Não estava no programa original da excursão, mas Grimberg nos presenteou, no último dia, com uma surpresa inesquecível: uma visita a Monreale (nos arredores de Palermo) e sua magnífica catedral, considerada uma das mais belas da Europa.
Construída a partir de 1174, o estilo é normando, mas foi recebendo influências arquitetônicas diversas, incluindo um pórtico triplo na época da Renascença. O conjunto é impressionante, mas é na decoração interior que o Duomo se destaca. O magnífico altar e as paredes superiores são ricamente decorados em mosaicos de vidro dourados, de uma perfeição que não deixa ninguém insensível. A parte inferior das paredes são de mármore branco entremeados por centenas de frisos de desenhos geométricos, cada um diferente do outro. O teto é todo entalhado em madeira dourada.
Realmente, para uma viagem centrada em vinhos e gastronomia, foi um grand finale para elevar os espíritos. |
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A fachada frontal |
O magnífico altar |
Detalhe do teto |
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As passagens bíblicas são contadas em mosaicos douradas |
O vinho também tem seu lugar |
As intrincadas paredes externas |