
Os irmãos Renzo e Riccardo Cotarella são dois dos mais respeitados enólogos da Itália. O primeiro responde pelos vinhos da Antinori assinando, dentre outros, os cobiçados Tignanello e Cervaro della Sala. O segundo é o mais requisitado enologo volante italiano, prestando consultoria para mais de 60 vinícolas nacionais e internacionais, em países como Estados Unidos, França e Índia.
Pois foi desses cromossomos com mutações dedicadas à arte enológica que nasceu a Falesco, em 1979, localizada nos limites da Umbria com o Lazio. A Azienda, uma sociedade entre os dois irmãos, surgiu com a missão declarada de investir na qualidade das castas autóctones da região - sem xenofobia, no entanto - e, segundo o Gambero Rosso, "em pouco mais de 30 anos, transformou-se em uma das mais importantes vinícolas da Itália Central".
Para apresentar os vinhos da casa, esteve esta semana no Rio de Janeiro, o Diretor Comercial da Falesco, Paulo de Carvalho. Quando recebi o convite para o evento, chamou-me a atenção um nome assim tão familiar e, distraidamente, imaginei tratar-se de um filho de Portugal. Mas logo na apresentação, já pude perceber um sotaque das Alterosas, antes mesmo de ele contar que era um mineiro de Belo Horizonte.
Obviamente, fiquei curioso ao ver um brasileiro como responsável pelas vendas de uma vinícola italiana, mas Paulo esclareceu com a história de sua vida, que ele define como muito simples: "Eu morava na Itália, trabalhava na Ernst & Young e foi ali que conheci minha colega Marta Cotarelli, filha de Renzo, e nos apaixonamos e casamos. Meu sogro logo me chamou para assumir a área comercial da Falesco e aqui estou eu apresentando seus vinhos." Realmente, bem simples...
Embora os enófilos, usualmente, se entusiasmem quando vão provar um vinho bem caro, eu prefiro me alegrar quando encontro belos vinhos posicionados dentro da minha faixa de consumo, estabelecida em no máximo 100 reais. E no almoço oferecido pela Importadora Winebrands no Gero, dos 4 vinhos degustados, 3 estavam dentro de meus limites, um fato hoje em dia bem raro.
A casta Roscetto, autóctone do Lazio, foi por muito tempo esquecida e maltratada, até ser recuperada e revivida pelos irmãos Cotarella. E tivemos a oportunidade de conhecê-la em dois tempos: em corte e num varietal.

O primeiro deles foi o Poggio dei Gelsi 2010, onde a Roscetto aparece em 40%, acompanhando a Malvasia e a Trebbiano. É um vinho da mais bizarra denominação da vinicultura mundial: Est! Est!! Est!!! di Montefiascone (vale a pena ler uma matéria com a história dessa DOC, que eu publiquei em 2009, clicando aqui). E já naquela época, eu identifiquei esse vinho como o melhor representante da denominação, muito embora não tenho bebido nenhum dos representantes da DOC, inexistentes no Brasil naquele tempo. Foi uma recomendação teórica, derivada de pesquisas na rede. Mas agora o vinho existe, eu provei e posso recomendar com conhecimentos práticos, quanto mais pelo seu preço de 54 reais para o consumidor final. É um vinho de muito boa acidez, com toques minerais, fresco, sem passagem por madeira, que na boca revela-se cheio de frutas e de Est! Est!! Est!!!
Mas show mesmo foi o Ferentano 2008, 100% Roscetto, um vinho que faz a fermentação em barricas usadas e por lá permanece por 4 meses, o tempo exato para ganhar complexidade sem comprometer a fruta. É coisa muito séria! Delicioso, com uma boca cremosa e prolongada, excelente acidez e espetacular estrutura. Quase no limite superior da minha faixa, a 98 reais, é imperdível!
Bem mais em conta, a 69 reais, um vinho que é um verdadeiro achado: o Tellus Syrah 2009 é apresentado em uma atraente garrafa do tipo Imperial (foto à direita), baixinha, gordinha e com um belo rótulo escolhido em concurso entre 6 artistas; impossível passar desapercebida. Mas o que interessa mesmo, o que está dentro, é compatível com a bonita embalagem. Um vinho frutado, macio, elegante, com notas terrosas, de cerejas e deliciosamente condimentado. Com apenas 5 meses de carvalho, a madeira é muito bem integrada, deixando a fruta se exibir à vontade. Altamente recomendado!
E para finalizar, o vinho que é uma unanimidade italiana: o Montiano 2008 é um Merlot puro-sangue, que não nega a sua origem e que já tem cadeira cativa no lugar mais alto do pódio do Gambero Rosso, abocanhando seguidos Tre Bicchieri. Um gigante de feições delicadas, arredondadas, aveludadas e que exala sedutores aromas de ameixa, de especiarias e de tabaco. Um vinho quase erótico! Mas é claro que isso tudo tem seu preço e foi ele, justamente, o único que transpôs - e transpôs bastante - o meu limite de preço: a caixa registradora marca a quantia de 218 reais!
Oscar Daudt
30/09/2012 |