
"Antes de fazer duas garrafas de vinho, faça uma, mas faça bem feito. Assim o cliente gosta e volta a comprar."
Luiz Valduga 1924-2004 |
A saga da família Valduga na Serra Gaúcha começa com a chegada dos italianos, provenientes do Trento, em 1876. Foi uma viagem difícil, partindo de Gênova, acotovelados numa terceira classe com 640 outros imigrantes, que durou 30 dias até o porto de Santos. De lá, para o Rio Grande do Sul, foram mais 10 dias até chegarem a Montenegro pelo rio Caí. A partir daí, a subida para o atual Vale dos Vinhedos foi feita em carretas.
Todos esses detalhes são contados em um livro editado pela Casa Valduga para preservar a história dessa família que lutou e venceu. E, lendo esse livro, pode-se entender porque há tantos Valdugas na Serra do Rio Grande. Segundo os registros, chegaram 4 casais Valduga, com um total de 22 filhos!
Mas o livro se concentra mais na figura de Luiz Valduga, o fundador da atual Casa e bisneto do casal Marco e Eleonora, que empreenderam a viagem cheia de esperança, de Rovereto a Bento Gonçalves. Luiz era um típico colono italiano, trabalhador, apegado a terra e arraigado à tradição. Elaborava seus vinhos com esmero, mas usando uvas americanas plantadas em latada e vendidos em garrafão com a marca Leopoldina.
Já seus filhos, Juarez, Erielso e João, de uma geração mais esclarecida - João é formado em enologia e trabalhou na Embrapa - queriam modernizar a vinícola, plantando uvas viníferas em espaldeira, mas enfrentavam a resistência de Luiz. Resolveram, então, dar de presente aos pais uma viagem a Salvador e, enquanto os velhos tomavam água de coco a beira-mar, replantaram um hectare de vinhedos com Merlot, Cabernet Franc e Chardonnay. Quando o pai voltou, a reação não foi tão forte quanto a esperada... E em poucos anos percebeu os benefícios da mudança.
Hoje em dia, a Casa Valduga é uma das maiores e mais importantes vinícolas brasileiras e seus vinhos - principalmente seus espumantes - são reconhecidos pela elegância e qualidade.
Há cerca de um ano, a Valduga decidiu reposicionar seus espumantes, numa medida didática, informando em cada rótulo o tempo que ele permanece em autólise. Assim, temos agora os espumantes 12 meses, 25 meses e 60 meses (de longe, meu preferido!). Infelizmente, já havia na carteira o Espumante Casa Valduga 130, que pode induzir os consumidores a pensar que ele passe 130 meses com suas borras. Mas fazer o quê?
Pois agora, em outra medida pedagógica, as linhas de vinho foram claramente identificadas de forma a mostrar aos consumidores de onde eles provêm:
Leopoldina (em homenagem ao histórico garrafão), do Vale dos Vinhedos: Gran Chardonnay, Chardonnay, Merlot e Merlot Rosé;
Identidade, de Encruzilhada do Sul: Gewürztraminer, Arinarnoa e Marselan;
Raízes, região da Campanha: Gran Raízes (corte), Sauvignon Blanc, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon.
Pronto! Está tudo explicado! E no almoço oferecido pela Casa Valduga no Eça, com um menu caprichadíssimo do chef Frédéric de Maeyer e harmonizado pela sommelière Deise Novakoski, de forma irrepreensível e surpreendente, tivemos a oportunidade de conhecer três desses vinhos:
Leopoldina Chardonnay 2011, com discreta passagem em madeira que resulta em um vinho bastante elegante, com boa acidez e a fruta dominando;
Raízes Gran Corte 2009, com Cabernets Sauvignon e Franc, mais Tannat, 12 meses em carvalho francês, apresenta um belíssimo nariz de frutas e chocolate;
Identidade Gewürztraminer 2012, um dos primeiros vinhos da excepcional safra de 2012 a chegar ao mercado, exalando frutas brancas, com frescor e bom corpo.
"Meu pai, Luiz, nunca demonstrou cansaço. Um homem de uma força de vontade impressionante, um vigor físico e mental. Uma aura positiva."
João Valduga |
Como os leitores sabem, eu tenho uma certa implicância com todas as páginas de vinho que não divulgam seus preços. Acho isso um desserviço aos consumidores. E a Valduga está nesse time. Por quê? Não sei, mas com certeza não é por falta de estrutura.
Nessa minha vida de eventos, já testemunhei vários apresentadores que "erram" os preços de seus vinhos para baixo. Com isso, eu informo aos leitores preços irreais e depois fico recebendo reclamações. Mas, tudo bem, pelo menos eu consigo entender a estratégia.
Já a Valduga, no entanto, é a primeira empresa que "errou" seus preços para cima. Ao perguntar quanto custava cada um dos vinhos servidos, recebia respostas vagas, tipo "de tanto a tanto", e os valores me pareceram um pouco inflados. Daí montei uma armadilha: perguntei o preço de um espumante que havia comprado há cerca de um mês, cujo valor estava fresquinho na memória. Foi-me informado de 80 a 90 reais. Eu então, no bate-pronto, retruquei: "Pois eu paguei 56 reais!" Foi na CADEG e, na verdade, o vinho estava marcado na prateleira a 59 reais, mas o dono da loja ainda me deu um mini-desconto de 3 reais. João Valduga quase caiu da cadeira...
Oscar Daudt
08/09/2012 |