
Embora seja uma personalidade jurídica distinta e tenha uma administração própria, a DOMNO do Brasil possui a mesma composição acionária e o mesmo conselho de administração do Grupo Valduga: os irmãos Juarez, Erielso e João Valduga. É, portanto, uma empresa da família. E mais ainda, a DOMNO vinifica seus espumantes na Casa Valduga, divide o enólogo com ela e seus vinhedos são os mesmos da matriz. É praticamente tudo junto misturado...
Bem, existem duas diferenças básicas: a primeira é que a DOMNO produz apenas vinhos espumantes, não tendo nenhum vinho tranquilo em sua linha de produção. E enquanto todas as borbulhas da Casa Valduga são obtidas pelo método tradicional, na "filial" o processo é sempre charmat.
E a segunda - e importante - diferença é que a DOMNO é também uma importadora de vinhos. E pelo que pude constatar, uma importadora que já se pode classificar como de médio porte. E crescendo...
Para instalar a DOMNO, os irmãos Valduga adquiriram a antiga sede da multinacional Allied Domecq, localizada em Garibaldi, na estrada que liga essa cidade a Bento Gonçalves. E encarando a Chandon, do outro lado da via... Eu já tive a oportunidade de visitá-la, julho passado, e o tamanho impressiona e até assusta, pois está quase toda vazia, meio fantasmagórica, com muuuuuuuuito espaço para a empresa crescer.
Quem responde pela administração da DOMNO é o jovem Jones Valduga, filho de João, e foi ele quem comandou a apresentação dos novos rótulos importados, em um almoço muito chique no restaurante Eça, que contou com a harmonização da sommelière Deise Novakoski.
Jones explicou que atualmente o negócio da empresa está dividido entre 70% com os espumantes de produção própria e de 30% com os vinhos importados, mas que em dois anos ele almeja obter a igualdade: 50-50 para cada um dos setores. Perguntei qual era a produção atual de espumantes e fiquei surpreso em saber que atingia a quantidade de 1.000.000 de garrafas por ano, das duas marcas da casa: a Ponto Nero e a Alto Vale. Acho que Jones ficou louco de contente quando comparei que a Casa Valduga tinha levado 130 anos para atingir o dobro disso e que ele havia conseguido, em apenas 5, já chegar na metade. Nesse ritmo, em mais 5 anos, o aprendiz já pode passar à frente dos feiticeiros.
No lado dos vinhos importados, o crescimento não é menos estonteante: a DOMNO já conta com uma carteira de nada menos do que 80 rótulos. Tem muita gente boa, há bem mais tempo na pista, que não atingiu essa quantidade ainda.
Aos poucos, Jones foi montando essas parcerias. Começou com os vinhos chilenos (os rótulos Yali, da Viña Ventisquero) e argentinos (a Vistalba, de Carlos Pulenta); expandiu para Portugal (Grupo Enoport) e França (com rótulos bordaleses do Grupo Advini); e agora atacou a Itália (com os piemonteses de Pietro Rinaldi e os toscanos do Principe Corsini) e a Espanha (com vinhos de Ribera del Duero, Toro e Rueda). E, feliz da vida, comemorava já contar com vinhos que representam os 6 principais países exportadores para o Brasil.
Belos vinhos, preços nem tanto... |
Está cada vez mais banalizada a entrada em nosso mercado de vinhos absurdamente caros. Sem entrar no mérito da qualidade, não me parece razoável que as importadoras - e até mesmo algumas vinícolas brasileiras - ofereçam rótulos com preços superiores a 200 reais. 100 eu já acho muito! Nossa base de consumidores ainda é muito pequena e, mesmo assim, não está disposta - e nem tem condições - de gastar essa dinheirama toda em uma garrafa de vinho. Mas parece que os vendedores insistem em se engalfinhar e oferecer produtos para a meia dúzia de clientes que querem e podem pagar tanto assim.
Como bem diz uma representante de vinhos no mercado carioca: "Hoje em dia, todos os restaurantes são obrigados a listar vinhos chilenos e argentinos em suas cartas, seja qual for o estilo da casa: italiano, francês, português... O que o público quer é bom preço, o que só se consegue, atualmente, com vinhos latino-americanos".
E os vinhos apresentados pela DOMNO eram bem caros. Dos 8 rótulos, 3 tinham etiquetas acima de 200 reais! Logo o primeiro vinho servido, o Principe Corsini Don Tommaso Chianti Classico 2007, como que para dar um tratamento de choque, era o mais caro de todos, a 280 reais! Mas foi servido juntamente com seu irmão Principe Corsini Camporsino Chianti 2011, de preço bem mais modesto, a 56 reais. E eu pergunto: quantos consumidores conseguem perceber a diferença de qualidade entre os dois, a ponto de querer pagar 5 vezes mais? Esses vinhos, anteriormente, eram trazidos pela Mercovino e vendidos por esses mesmíssimos preços. A mudança de importadora não fez nenhuma diferença, o que é uma grande pena.
Quando, no início do ano, a região de Toro veio apresentar seus vinhos no Rio de Janeiro, um dos destaques da feira foi exatamente o próximo rótulo que a DOMNO serviu: o Frontaura Reserva 2005, vinho suntuoso, condimentado, mas que nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar que chegaria por aqui custando 225 reais, bem longe do meu padrão de consumo.
Com preços bem mais razoáveis, aportaram em nossas taças o Frontaura Nexus Ribera del Duero 2011 (R$99) e o Tinedo Cala N. 1 2008 (R$58); o segundo, corte de Tempranillo com apenas 5% de Cabernet Sauvignon, é escolha certa, com aromas de caramelo e defumados e boa potência e equilíbrio.
Ainda tivemos o Pietro Rinaldi Barbaresco San Cristoforo 2008, delicioso, fresco, floral, aveludado, mas com um precinho de amargar o retrogosto: 270 reais!
Oscar Daudt
06/12/2012 |