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A terra dos brancos
Para um apreciador inveterado de vinhos brancos, a semana que passei visitando as vinícolas da região italiana do Friuli - ou Friuli Venezia Giulia, como queiram - foi uma das mais deliciosas passagens de minha vida de enófilo. Em praticamente todas as degustações, os vinhos brancos reinavam absolutos.

Com uma variedade de castas brancas autóctones e internacionais, vinificadas como varietais ou em corte, os vinhos são de altíssima qualidade e a região é reconhecida internacionalmente como o endereço dos melhores vinhos brancos italianos. Lá existem vinhos tintos também, com algumas castas autóctones virtualmente desconhecidas pelo mercado global, mas esses não têm o mesmo prestígio de seus compadres brancos. Parece-me mesmo que o Friuli deveria concentrar seus esforços de exportação nos vinhos brancos, deixando os tintos apenas para o consumo local.

Os brancos varietais são exuberantes, mas é nos cortes que a região se destaca, apresentando alguns dos melhores vinhos brancos do mundo. No entanto, no Brasil, seus vinhos são ilustres desconhecidos e contam-se nos dedos de uma só mão os produtores que são trazidos para nosso mercado.

Mas a região está querendo conquistar o Brasil, apostando que seus vinhos brancos são a harmonização ideal para nosso clima tropical. É claro que essa pretensão esbarra em nosso consumo reduzido de brancos. Eu, no entanto, responsável por alguns pontos percentuais do consumo desses vinhos, mostrei a eles que, em lugar de ser uma barreira, o baixo consumo era na verdade uma oportunidade. O campo está aberto para quem primeiro conseguir mostrar aos brasileiros a adequação dos mesmos para nosso estilo de vida descontraído e "caliente".

Isso me faz lembrar de uma excelente coluna que Marcelo Copello publicou em nossas páginas: 10 motivos para gostar de vinhos brancos. Vale a pena reler clicando aqui. O Friuli agradecerá...

As DOCs do Friuli
A região do Friuli é dividida em 10 DOC's e 3 DOCG's, em uma arrumação complicada que inclui superposições e denominações inter-regionais. O mapa à direita apresenta a divisão dessas denominações (clique na imagem para apresentá-la em tamanho grande). As mais importantes - pelo menos em nossa viagem - são:

DOC Isonzo
A região do Isonzo fica localizada em uma área plana delimitada pela montanhas do Collio e do Carso e cortada pelo cristalino rio Isonzo. A DOC é dividida em duas áreas: a Rive Alte e a Rive di Giare, cujos solos apresentam características bem distintas. Conta atualmente com mais de 60 produtores. Em termos de castas, não há muita restrição, cabendo na DOC praticamente todas as castas do Friuli. No entanto, surpreende saber que a Ribolla Gialla, tão comum por lá, não é autorizada para a DOC.

DOC Collio
O Collio é uma pequena DOC localizada entre as DOCs Colli Orientali e Isonzo, tendo a Eslovênia como limite oriental, com muitos de seus vinhedos se estendendo para aquele país. Dizem que as uvas plantadas no país vizinho não podem receber a denominação. Dizem... Em seus domínios as castas brancas predominam na proporção de 85%. As variedades brancas podem ser qualquer uma das aceitas no Friuli, mas quanto às tintas, apenas as internacionais Merlot, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon são autorizadas.

DOC Colli Orientali del Friuli
Criado em 1970, o Consorzio dessa DOC foi um dos primeiros a ser estabelecido em toda a Itália. A DOC fica localizada na área montanhosa da província de Udine, com altitudes que variam de 100m a 350m. A região possui cerca de 200 associados, sendo 150 deles engarrafadores de seu próprio vinho. Não há restrições de castas, podendo ser utilizadas todas as castas autóctones e estrangeiras autorizadas para o Friuli. A colheita deve ser feita manualmente, apenas. Dentro do território da DOC, encontram-se as DOCGs Picolit, Ramandolo e Rosazzo.

DOC Carso
Em contraste com as demais denominações, esta DOC é mais voltada para e elaboração de vinhos tintos, invertendo o percentual de produção para 80% de tintos e 20% de brancos. As castas tintas autorizadas são: Terrano, Refosco dal Pedunculo Rosso, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot. As castas brancas podem ser: Traminer, Vitovska, Malvasia, Chardonnay, Pinot Grigio e Sauvignon.

Muitas castas prá contar
Um passeio pelos vinhos do Friuli revela uma grande quantidade de castas, autóctones ou não, utilizadas em cortes ou como varietais. Das castas brancas, afora as "estrangeiras" Sauvignon, Pinot Bianco, Pinot Grigio e Chardonnay, encontramos as seguintes:

Friulano
Tradicionalmente conhecida na região como Tocai Friulano, esta casta teve de ser rebatizada, atendendo a reclamações da Hungria sobre a semelhança semântica com a região de Tokai, muito embora os vinhos fossem infinitamente distintos e nem ao menos utilizassem a mesma uva. Bem, os rótulos foram atualizados, mas o nome Tocai continua em todas as bocas e sua popularidade não pára de crescer. Elabora vinhos de alta qualidade, com excelente estrutura, delicados aromas florais e de maçã, e um final com toques amendoados. É considerado o parceiro ideal para o presunto San Daniele, delicada iguaria produzida na região.

Ribolla Gialla
Outra das variedades emblemáticas da região, é utilizada para a elaboração de estilos diversos. Como vinho jovem, é delicado, floral e de ótima acidez. Utilizando-se a maceração das cascas e envelhecimento em carvalho, elabora vinhos profundos, complexos e intrigantes. E pode, finalmente, ser utilizado para a elaboração de espumantes, resultando em perlage finíssima com excelente potencial de guarda. A Ribolla dividiu com a Friulano as minhas preferências na região.

Malvasia Istriana
Elabora um vinho leve, condimentado, com aromas de frutas tropicais. É considerado como um "vinho para peixe", mas não me entusiasmou muito.

Vitovska
Casta delicada e agradável que oferece marcante acidez e aromas frutados (notadamente pera). Não sendo muito utilizada na região, não tivemos a oportunidade de provar nenhum exemplar dessa casta, mas eu trouxe na bagagem um garrafa de Skerk 2009, elaborada no Carso, com maceração das cascas e estágio em madeira. Quando provar eu conto as minhas impressões.

Das castas tintas, além das internacionais Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Nero, destacam-se as seguintes variedades autóctones:

Refosco dal Pedunculo Rosso
O nome dessa variedade deriva da cor vermelha de seu pedúnculo. Casta emblemática da região, produz vinhos de alta acidez, cor profunda e taninos verdes.

Pignolo
Se a Refosco é tânica, o que dizer da Pignolo? Quando se experimenta um vinho jovem, o ataque tânico chega a murchar as bochechas, como se fosse um suco de caqui verde. No entanto, após uma guarda de 5, 10 ou até 20 anos, torna-se um vinho suntuoso, condimentado e os taninos se equilibram. Mas quem quer esperar tanto tempo?

Schioppettino
Esta casta esteve em vias de extinção, mas está sendo recuperada e promovida na região. Seus característicos aromas de framboesa e pimenta, acompanham uma boca de corpo leve, baixos teores alcoólicos e elevada acidez.

Oscar Daudt
01/11/2012


Tenuta di Angoris
A imponente sede da Tenuta di Angoris, a Villa Locatelli, do século XVIII, impressiona. E é de lá que a charmosa Claudia Locatelli comanda a produção de 700.000 garrafas ao ano, produzidas nos 130 hectares que se espalham pelas DOC Isonzo, Collio e Colli Orientali.

Claudia, juntamente com o enólogo Alessandro Dal Zovo, preparou-nos uma recepção primorosa, oferecendo-nos a degustação de 7 conjuntos de 3 vinhos, didaticamente organizados, às cegas. Como pegadinha, 2 dos 21 vinhos, não eram assinados pela vinícola. Um deles foi fácil adivinhar: no grupo dos Sauvignon Blanc, havia um exemplar da Nova Zelândia, cujo estilo exuberante contrastava com elegância dos rótulos da Angoris. A outra pegadinha me passou longe, muito embora fosse teoricamente fácil de adivinhar: no 5º conjunto, em meio a dois cortes típicos da região, havia um Chablis.

No entanto, o tempo disponível para a degustação de tantos rótulos foi muito curto, não permitindo uma avaliação mais criteriosa. Unilateralmente decretei: não vou degustar os tintos e vou me concentrar apenas nos brancos. E assim foi...

Mas no sétimo e último conjunto, havia dois tintos com típica cor de evolução que se destacavam dos demais. Dava para ver que eram bem antiguinhos. Mesmo assim a surpresa foi grande quando os vinhos foram revelados: eram dois Angoris da safra de 1970, um Cabernet e um Merlot. Não deu para resistir e os provei para constatar a gostosa longevidade dos mesmos. Foi um início de viagem encorajador.
A imponente Villa Locatelli, do século XVIII, é a sede da vinícola Os vinhedos da região de Isonzo Claudia Locatelli, diretora-geral da Angoris
Alessandro dal Zovo, enólogo O conjunto Friulano - Ribolla Gialla O conjunto Pinot Bianco - Pinot Grigio
Os Sauvignon Blanc O conjunto corte e Chardonnay Os tintos
Masùt da Rive
A Masùt da Rive é uma pequena vinícola familiar localizada em Mariano del Friuli, na DOC Isonzo, onde plantam 20 ha de vinhas, que vêm a se somar a um pequeno vinhedo de 1 ha na DOC Collio, onde a Ribolla Gialla é cultivada. Sua produção se divide em 60% de brancos (5 rótulos) e 40% de tintos (6 rótulos). Em contraste com a prática usual do Friuli, a Masùt não elabora vinhos de corte e sua produção de 100.000 garrafas ao ano é toda de varietais.

Comandada pelos irmãos Marco e Fabrizio Gallo, a vinícola era batizada, originalmente, de Silvano Gallo, nome de seu pai, até receberem a visita dos advogados da gigante Gallo americana exigindo a troca de nome. O nome foi trocado, mas a figura de um galinho continua enfeitando todos os rótulos, para marcar território.

A visita às instalações transmite a impressão de se estar em um grande empório de vinhos internacionais, com uma infinidade de garrafas dos mais importantes fabricantes mundiais. Questionei Marco sobre tão inesperado estoque e ele me contou que costuma comparar seus vinhos com as grandes marcas do mercado, em degustações às cegas, para aprender e se aperfeiçoar cada vez mais. E ele fez isso conosco, oferecendo uma degustação de 4 Pinot Noir não identificados, 2 de fabricação própria e 2 alienígenas. Situações assim sempre me deixam desconfortável. "E se eu gostar mais dos outros vinhos do que dos dele?" - pensava eu. Mas que nada! Acertei na mosca e minha preferência recaiu sobre o elegante e aveludado Masùt da Rive Pinot Nero, desbancando um Domaine Dujac Vosne-Romanée e um Cà del Bosco Pinèro.

Os brancos eram fantásticos, mas o grande destaque foi uma magnun de Masùt da Rive Sauvignon 1999(!!!), espetacularmente viva, intensa e complexa, que acompanhou o almoço. E cada vez mais eu ia gostando do Friuli...
Os irmãos Gallo, Marco e Fabrizio, comandam a vinícola Masùt da Rive Pinot Grigio Isonzo 2011 Masùt da Rive Chardonnay Isonzo 2011
Masùt da Rive Sauvignon Isonzo 2011 Masùt da Rive Maurus Chardonnay Reserva Isonzo 2009 A degustação às cegas de Pinot Nero
Atendendo às exigências dos Gallo americanos, a vinícola teve de mudar de nome Para acompanhar o almoço, nada menos do que um vinho sensacional: Masùt da Rive Sauvignon 1999 em garrafa magnum, um espetáculo de longevidade Masùt da Rive Pinot Noir
Apresentação sobre o Mercado Brasileiro de Vinhos
Pierpaolo Penco, diretor do Consorzio di Tutela Vini DOC Friuli Isonzo, solicitou que apresentássemos aos produtores da região algumas informações sobre o mercado brasileiro de vinhos, a fim de posicioná-los sobre as características de nosso mercado e regular as expectativas.

Preparei, então, a apresentação (cujas telas são abaixo reproduzidas) com uma breve história do vinho no Brasil, peculiaridades de nosso mercado e dados estatísticos da produção e do consumo. Não enfeitei nem piorei as informações, é claro. Apenas procurei mostrar que os dados negativos - o baixo consumo per capita e, mais importante para eles, a pouca participação dos vinhos brancos na divisão do mercado - deveriam ser encarados como possibilidade de negócios.

Acho que fui convincente, pois é mais fácil falar quando se tem um interesse direto no assunto: como contumaz consumidor de vinhos brancos, quantos mais rótulos chegarem do Friuli, para mim melhor! Desde que cheguem a bom preço...
Mega-degustação na Tenuta Borgo Conventi
No segundo dia, o grupo de brasileiros se dividiu. Os importadores foram manter contatos diretos com os produtores a fim de avaliar as possibilidades de negócio. Roberto Rodrigues foi participar de um concurso sobre o melhor vinho de corte friulano. E Alexandre Lalas e eu fomos para uma mega-degustação que teve lugar na bela Tenuta Borgo Conventi. Fundada em 1975, a Tenuta foi adquirida em 2011 pela conhecida vinícola toscana Ruffino.

Mas a degustação de que lá participamos constava de vinhos de diversas Aziendas friulanas. Os números impressionam: foram 3 espumantes, 19 brancos e sei lá quantos tintos, pois quando eles chegaram eu já estava prá lá do Colli Orientali, apesar de rigorosamente estar usando o baldinho.

O nível dos brancos, como em toda as degustações era alto, à exceção daqueles de Malvasia Istriana que, definitivamente, não me agradaram. Mesmo assim, posso destacar alguns que me conquistaram:

  • Masùt da Rive Collio Ribolla Gialla 2011: fruta madura, doce de pêssego, bela acidez e boca suntuosa;
  • Borgo Conventi Collio Pinot Grigio 2011: aromas de mel e pera madura, com bom corpo e agradável acidez;
  • Eugenio Collavini Broy Collio: corte de Friulano (50%), Chardonnay, Sauvignon e 10% de Picolit passificada; cremoso, bem estruturado, com aromas complexos, onde aparecem os cítricos, os florais e o abacaxi. Fresquíssimo e demora bastante para ir embora!;
  • Jermann Vintage Tunina 2010: complicado corte de Sauvignon, Chardonnay, Ribolla Gialla, Malvasia Istriana e Picolit, traz um nariz com notas de mel, flores e tropicalismo, precedendo uma boca seca, redonda e de excelente estrutura e complexidade.
  • O encontro dos produtores com os importadores Espumantes Jermann Chardonnay 2011
    Borgo Conventi Chardonnay Isonzo 2011 Ronco del Gelso Settevigne Isonzo 2011 Borgo Conventi Ribolla Gialla Collio 2011
    Masùt da Rive Ribolla Gialla Collio 2011 Lorenzon Borgo dei Vassali Pinot Grigio 2011 Eugenio Collavini Pinot Grigio Collio 2011
    Tenuta Villanova Pinot Grigio Isonzo 2011 Borgo Conventi Pinot Grigio Collio 2011 Sot Lis Rivis Pinot Grigio Isonzo 2011
    Borgo Conventi Friulano Isonzo 2011 Masùt da Rive Friulano Isonzo 2011 Ronco del Gelso Toc Bas Friulano Isonzo 2011
    Borgo Conventi Friulano Collio 2011 Tenuta Villanova Uve Nostre Malvasia Saccoline 2011 Ronco del Gelso Vigna della Permuta Malvasia Istriana 2011
    Jermann W... Dreams... 2010 Eugenio Collavini Broy Collio 2010 Jermann Vintage Tunina 2010
    Vie de Romans
    A Vie de Romans, bela vinícola localizada na DOC Isonzo, que desde 1978 vem sendo comandada por Gianfranco Gallo, considerado como um mestre na arte de utilização de barricas para vinhos brancos. E como tal, sua produção se divide em 95% de brancos e apenas 5% de tintos. Chamou-me a atenção que nas completíssimas fichas técnicas não era especificado o tempo de barricas. Quando perguntei essa informação, minha questão foi tratada como se fosse uma iconoclastia. Ele simplesmente me respondeu que isso não era importante e o que interessava era apenas o resultado final. Coisas de gênio.

    Gianfranco foi outro vinicultor importunado pelos causídicos da Gallo americana e teve de trocar sua identificação para o nome atual que eu, ingenuamente, acreditava significar um poético "Vida de Romances", mas aprendi que era um prosaico "Via dos Romanos". Sei lá, acho que prefiro continuar com minha interpretação original...

    Visitar as modernas instalações, conhecer as práticas enológicas, entender a filosofia da Azienda e, principalmente, degustar 7 rótulos do famoso enólogo foi uma experiência e tanto. Acho que nunca havia tido a oportunidade de encontrar uma vinícola em que todos os vinhos são do mesmo nível e custam a mesma coisa. Lá não existe linha de entrada; todos são topo de gama!

    Com isso, não deveria haver destaques, mas o Dut 'Un 2009 foi mais um dos bons momentos. O nome significa "Tudo em Um", podendo levar a pensar que se trata de uma mistura de todas as uvas, mas qual o quê, é um elegantíssimo corte de apenas Chardonnay e Sauvignon em partes iguais. Como sempre, a degustação de uma safra antiga foi para mim o verdadeiro ponto alto e o Dessimis Pinot Grigio 1996, com seus 16 anos, parecia que havia sido engarrafado ontem: fresquíssimo, de grande intensidade e complexidade, com toques caramelados e minerais foi um gol de placa!
    A entrada da vinícola Gianfranco Gallo, proprietário e enólogo A bela cor do Pinot Grigio ainda na barrica
    Vie de Romans Chardonnay 2010 Vie de Romans Piere Sauvignon 2010 Vie de Romans Vieres Sauvignon 2010
    Vie de Romans Dessimis Pinot Grigio 2010 Vie de Romans Dut 'Un 2009 Vie de Romans Dessimis Pinot Grigio 1996
    Lis Neris
    Estabelecimento existente desde 1879, a Lis Neris com seus 70ha de vinhedos e uma produção de 400 mil garrafas ao ano, é propriedade da família Pecorari há muitas gerações. Seu estilo é cantado e decantado pelo Gambero Rosso, sendo uma das poucas vinícolas estreladas do Friuli. Seus vinhos, predominantemente brancos, utilizam apenas 6 castas: Pinot Grigio, Chardonnay, Sauvignon Blanc e Friulano, nas brancas e Merlot e Cabernet Sauvignon nas tintas.

    Seu vinho mais emblemático foi aquele que mais me impressionou: o Lis Neris Gris. Na degustação foram-nos servidas as safras 2010 e 2007, e essa última foi exatamenta a que me conquistou. Tive de pedir, implorar, jurar fidelidade eterna para que me vendessem a cobiçada safra 2007, mas a vinícola fez jogo duro. A insistência foi tanta que, ao final, não me venderam, mas melhor ainda, me deram de presente. Saí de lá feliz da vida...
    Livia Nocenti Lis Neris Pinot Grigio 2011 Lis Neris Gris 2010
    Lis Neris Gris 2007 Lis Neris Confini 2009 Lis Neris Fiore di Campo 2010
    Lis Neris La Vila Friulano 2010 Lis Neris Tal Lùc 2008
    I Feudi di Romans (Lorenzon)
    A Lorenzon - também chamada de I Feudi di Romans - é uma vinícola da DOC Isonzo, localizada em San Canzian. Seus 130ha de vinhedos resultam em uma grande variedade de vinhos, de todas as castas que se puder imaginar.

    Nossa recepção foi uma das mais especiais da viagem. Fomos convidados para uma jantar elaborado pelo proprietário da vinícola, Enzo Lorenzon. Caçador inveterado, Enzo decorou a sala de jantar com seus troféus empalhados: veados, javalis, cabritos monteses.

    No cardápio, acompanhando os deliciosos vinhos da casa, anéis de lula, risoto de funghi porcini fresco e até mesmo um robalo ao sal grosso que tivemos a oportunidade de acompanhar, passo-a-passo, a cuidadosa preparação. Uma noite para não esquecer...
    Enzo Lorenzon, proprietário Espumante Lorenzon Pinot Brut Cacco al Re I Feudi di Romans Pinot Bianco
    I Feudi di Romans Malvasia Istriana I Feudi di Romans Cabernet Franc Lorenzon Traminer
    La Tunella
    Sobressaindo-se de todas as demais vinícolas que visitamos, a La Tunella, empresa familiar localizada no Colli Orientali del Friuli, é de longe a mais bonita. Com uma decoração moderna e de destacado bom gosto, revela os extremos cuidados, de forma até detalhista, de conduzir a casa. Tudo é perfeito... Ao entrar na sala dos tanques de fermentação, a impressão que se tem é a de se estar em uma UTI hospitalar, tamanha a limpeza que o ambiente alvar demonstra.

    Todo esse esmero se prolonga também pelos vinhedos, cuidados com carinho, durante todo o ano, em busca das melhores plantas e das melhores uvas, utilizando práticas orgânicas e sustentáveis sem a preocupação de obter qualificações.

    Ser recebido por Massimo Zorzettig, um dos dois irmãos que conduzem a empresa, é um grande diferencial. Com o perdão pelo trocadilho pobre, Massimo é o máximo! Entusiasmado, gentil, competente, conquista facilmente os visitantes. Num extemporâneo dia quente e ensolarado do outono friulano, o enólogo preparou uma degustação sob ombrelones com vista privilegiada para os vinhedos de folhas já douradas. Foi um momento inesquecível.

    Os vinhos foram apresentados em mini-verticais de 3 safras, onde se podia acompanhar a evolução e atestar a longevidade dos mesmos: quanto mais antigos, melhores. E o destaque de todos os grupos ficou para as 3 safras do La Tunella BiancoSesto (2011, 2009 e 2007), corte em partes iguais de Ribolla Gialla e Friulano, vinho vibrantemente fresco, suculento e marcadamente mineral. Um absurdo de tão bom!

    É realmente uma calamidade que esses vinhos ainda não tenham representação no Brasil. Importadores, correi...
    Todas as salas são cuidadosamente decoradas A bela sala de barricas Massimo Zorzettig, proprietário e enólogo
    Degustação ao ar livre, com vista para os vinhedos A degustação contou com o auxílio luxuoso de Ada Regina Freire, uma brasileira que é a embaixadora dos vinhos do Friuli La Tunella Rjgialla 2011 - 2009 - 2007
    La Tunella Biancosesto 2011 - 2009 - 2007 La Tunella Friulano 2011- 2009 -2007 La Tunella Col Livius Friulano 2011
    La Tunella Col Matiss Sauvignon 2011 La Tunella Refosco 2010 - 2009 - 2007 La Tunella Schioppettino 2009 - 2008 - 2006
    Eugenio Collavini
    Inesquecível a recepção que tivemos na Eugenio Collavini, localizada em Corno di Rozasso e instalada em uma histórica vila construída em 1560 e exemplarmente conservada. Foi nos jardins, em uma bela manhã de sol, que fomos recepcionados com um coquetel da mais alta estirpe, regado ao premiado espumante Ribolla Gialla 2008. A simpatia e o requinte de Anna Spangaro, proprietária da casa, fez toda a diferença.

    O almoço foi oferecido em uma sala de refeições essencialmente friulana - lá conhecida como "fogolar" - anexa à cozinha, decorada com belíssimas panelas de cobre. A gastronomia era ao mesmo tempo típica e sofisticada, oferecendo-nos uma belíssima experiência que foi cobiçada por Leona, a cachorrinha que é o simbolo da Collavini e enfeita todos os rótulos da vinícola.

    E o que interessava mesmo, os vinhos, fizeram bonito escortando os pratos. Vibrei bastante com o T Friulano Collio 2011, com boa acidez e corpo respeitável. Mas o campeão do almoço foi mesmo, como era de se esperar, o Broy Collio 2009, o rótulo emblemático da Collavini, que é um especialíssimo corte de Friulano (50%), Chardonnay, Sauvignon e 10% de Picolit passificada. Na boca é cremoso, bem estruturado, com aromas complexos, onde aparecem os cítricos, os florais, o abacaxi. Demora bastante para ir embora!
    A sede da vinícola é uma vila do século XVI Anna Spangaro, proprietária da vinícola Leona, a cadelinha que enfeita todos os rótulos da casa
    (foto de Pierpaolo Penco)
    Fomos recebidos com um especial coquetel de boas vindas nos jardins, regado ao espumante Ribolla Gialla 2008 Eugenio Collavini Turian Ribolla Gialla Colli Orientali Eugenio Collavini T Friulano
    Eugenio Collavini Ruan Espumante Eugenio Collavini Broy Collio 2009 Eugenio Collavini Verdàc 2005
    Jermann

    Depois das acolhidas calorosas de que fomos alvo pela manhã - na La Tunella e na Eugenio Collavini - a visita à Jermann, com sua germânica rigidez, foi um verdadeiro desastre. Ao chegar à vinícola, o visitante é recebido com um crachá. Surpreendentemente, não se trata de uma identificação, mas sim de uma lista de proibições que deve ser pendurada no pescoço para que não exista o risco de alguém esquecê-las. Escrito em italiano e inglês, para que não restem dúvidas, não há nem ao menos uma introdução de boas vindas. O conteúdo apenas informa:

  • é proibido fotografar;
  • é proibido tocar em qualquer coisa;
  • é proibido se afastar do anfitrião;
  • é proibido utilizar o celular.

    Meu santo Deus! Se era para serem antipáticos, eles ultrapassaram a meta. Nem mesmo considerando que no grupo havia jornalistas que tinham sido convidados para visitar a vinícola, a proibição de fotografar foi retirada. Um golpe de mestre do anti-marketing.

    Para nos receber foi escalado Michele Jermann, herdeiro da casa, um garoto novo, tímido e visivelmente desconfortável com a missão que lhe havia sido reservada. A visita foi lúgubre e aborrecida. E não conseguimos detectar nada de especial que justificasse a proibição de tirar fotos.

    Na hora da degustação, ficamos sob o rígido comando de uma personagem que mais parecia uma sargenta do exército imperial austro-húngaro, uma mulher eficiente, mas incapaz de dar um sorriso. Nessas condições, não havia a menor possibilidade de se apreciar os vinhos. Uma pena, pois segundo o Gambero Rosso, trata-se de uma das melhores casas da região.

    Ao final, eles bem que se esforçaram e ofereceram uma garrafa de vinho para cada um, mas a essa altura do campeonato, a má impressão já havia chegado para ficar.

    Como não pude fotografar, não tenho nada a mostrar aos leitores.
  • Ronco del Gelso
    Um dos mais espetaculares momentos da viagem, foi o jantar-degustação oferecido pela Ronco del Gelso, vinícola nascida em 1988 e localizada na DOC Isonzo. Sua produção anual é de 150.000 garrafas distribuídas entre 12 rótulos, o que resulta em uma pequeníssima e exclusiva quantidade de cada um.

    O jantar foi realizado no Ristorante Il Campiello, reputado como o melhor do Friuli, e a vinícola não poupou rótulos para harmonizar com a gastronomia local: no total, foram nada menos do que 10 rótulos apresentados em verticais, totalizando 20 vinhos! Foi um show! E, mais do que isso, foi um documento assinado e com firma reconhecida da longevidade dos vinhos brancos friulanos. Os destaques foram um Ronco del Gelso Riesling 1996 e um Sot Lis Rivis Pinot Grigio 1995, vinhos suntuosos e de grande vivacidade e complexidade. Nada menos do que o máximo!
    Giorgio Badin, proprietário e enólogo Elena Fabriani, diretora de exportações Ronco del Gelso Toc Bas Friulano 2006 - 2011
    Ronco del Gelso Riesling 1996 - 2006 - 2008 Ronco del Gelso Sot Lis Rivis 1995 - 2006 - 2010 - 2011 Ronco del Gelso Malvasia 2006 - 2008 - 2010 - 2011
    Ronco del Gelso Rosimi 2009 - Settevigne Chardonnay 2011 - Latimis 2011 Ronco del Gelso Merlot 2001 - Sintesi 2008 - 2009 Ronco del Gelso Aur Traminer Passito
    Castelvecchio
    A Castelvecchio é uma vinícola que respira história. Sua propriedade foi o palco central da 1ª Grande Guerra na região, sendo a sede do alto comando de guerra e recebia as visitas de supervisão do rei Vittorio Emmanuele III. Tudo por lá está marcado pelo conflito, com inúmeras referências, documentos e fotografias que não deixam as lembranças se apagarem. A Villa della Torre Hohenlohe foi transformada em hospital de campanha e, ao final da guerra, estava bastante danificada. Hoje totalmente restaurada, ainda preserva em suas paredes os grafittis dos internos com mensagens dolorosas dos que lá estavam internados. É tocante...

    Esta foi a única vinícola da DOC Carso que visitamos. Como tal, sua carteira de vinhos é mais focada em tintos, com 80% de sua produção dedicada a essa cor. As terras da região são ricas em ferro e manganês que temperam seus surpreendentes vinhos assinados pelo enólogo Gianni Menotti, já escolhido como o enólogo do ano, na Itália, pelo guia Gambero Rosso. Provar os vinhos por ele elaborados e por ele próprio servidos foi um privilégio.

    Seus brancos minerais são deliciosos, mas o destaque da degustação foi o Castelvecchio Sagrado 2005, definido como o "Carso em Bordeaux", por ser um corte de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e a autóctone Terrano, e apesar de seus 4 anos de barrica tinha a elegância de uma madeira bem integrada a seus aromas frutados e de rosas.
    Mirella Della Valle, proprietária A Villa della Torre Hohenlohe durante a 1ª Grande Guerra e atualmente, totalmente restaurada
    No interior da Vila, as lembranças dos tempos difíceis:
    "Maldita esta guerra que não termina nunca."
    Pierpaolo Penco, diretor do Consorzio Isonzo, e o rei Vittorio Emanuele III, ambos em tamanho natural A homenagem ao soldado-poeta Giuseppe Ungaretti, que lutou nos campos da vinícola
    Gianni Menotti, o premiado enólogo Castelvecchio Malvasia Dileo 2011 Castelvecchio Pinot Grigio 2011
    Castelvecchio Espumante Brut Masia NV Castelvecchio Refosco dal Pedunculo Rosso 2008 Castelvecchio Sagrado 2005
    Tenuta Villanova
    A Tenuta Villanova não deixa por menos: em seu logo, exibe o ano de sua fundação, 1499, um ano mais velha do que o Brasil português. Suas instalações são maravilhosas, exibindo um jardim caprichado e uma destilaria histórica, em pleno funcionamento, produzindo suas grapas.

    Os vinhedos - mais de 100ha - se estendem continuamente da DOC Collio à DOC Isonzo e uma visita a eles é obrigatória, pois ofereceram uma das mais belas vistas de nossa viagem. Ainda mais precioso foi conhecer as casamatas da 1ª Grande Guerra, localizadas sob os vinhedos. Foi momento de forte emoção.

    Infelizmente, eu não pude participar da maior parte do almoço-degustação para nós oferecido, pois estava de viagem marcada para Turim.
    As históricas instalações
    (foto de divulgação)
    Os belos jardins da vinícola Sob os vinhedos, as casamatas da 1ª Guerra Mundial A antiga destilaria, ainda em funcionamento
    Villanova Traminer Aromatico 2011 Villanova Uve Nostre Ribolla Gialla 2011 Villanova Cabernet Franc 2010
    Os vinhedos se estendem do Collio até Isonzo
    (foto de divulgação)
    Os convidados
    Alexandre Lalas, do Wine Report Duda Zagari, da Confraria Carioca
    Marcelo Celentano, da Marimpex
    (foto do Pierpaolo Penco)
    Oscar Daudt, do EnoEventos
    (foto de Ada Freire)
    Paula Fonyat, da Vínica Roberto Rodrigues Sérgio Lima, da Alafia
    Comentários
    Johnson Rogenski
    Enófilo
    São Paulo
    SP
    01/11/2012 Oscar, como você sempre fui fã de brancos e a região norte da Itália, me surpreende cada vez mais.

    Da região de Friuli, temos ainda os gênios:

    Livio Felluga
    Josko Gravner
    Gianni Menotti

    Fora outros que você nos apresentou. Precisamos inventar computadores que transportem aromas, para podermos nos deliciar.

    Abraço e parabens como sempre.

    Johnson

    O Gianni Menotti nós encontramos na Castelvecchio, pois ele também é o enólogo de lá.

    E fora da programação oficial, visitamos a Gravner, recebidos pelo próprio Josko, que nos proporcionou uma degustação inesquecível de nada menos do que 11 de seus vinhos. Mas isso será assunto de uma próxima matéria específica.

    Abraços, Oscar
    Valdiney C Ferreira
    L'Orangerie
    Rio de Janeiro
    RJ
    01/11/2012 Caro Oscar,

    A bela Friuli-Venezia Giulia é realmente um paraíso na Itália para quem aprecia brancos bem feitos como os que fazem por lá. Eles fazem sem dúvida os melhores brancos da velha Enotria. Realmente um percurso obrigatório para quem ama os clarinhos e não tem bala na agulha e nem é maluco para encarar cotidianamente os Borgonhas.

    Uma pena o que aconteceu na Jermann. Há dez anos atrás eles não recebiam desta forma. Será que mudaram os proprietários? Ou só os hábitos de receber?

    De qualquer forma, se formos falar dos 5 melhores produtores do Collio e do Colli Orientali eles por mérito obrigatoriamente estariam incluídos. Uma lista de lamber as taças teria em minha opinião: Giralamo Dorigo, Livio Felluga, Jermann, Ronco dei Tassi, Villa Russiz e para finalizar o Le Due Terre.

    Abs

    Pois é, acho uma pena que tenhamos tão poucas vinícolas de lá trazidas aqui para o Brasil. Mas espero que a coisa comece a mudar.

    Abraços, Oscar
    Aguinaldo Aldighieri
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    01/11/2012 Como também sou brancófilo, cada dia mais, fiquei com inveja de você. Já provei ótimos friulano, ribolla gialla, e principalmente sauvignon blanc, mas das DOC Collio e Colli Orientali, que suponho sejam as mais conceituadas. Estranhei vocês terem visitado majoritariamente a DOC Isonzo!

    Parabéns pela matéria.

    Aguinaldo, a viagem foi patrocinada, basicamente, pela DOC Isonzo. E como fizemos muitas degustações comparativas, pudemos constatar que seus vinhos não deixavam nada a desejar frente às outras DOCs. Abraços, Oscar
    Eugênio Oliveira
    Enófilo
    Brasília
    DF
    02/11/2012 Essa é a viagem dos sonhos de qualquer amante de brancos e principalmente de orange wines. O Friuli é a terra deles.

    Ainda bem que você fará uma específica do Gravner, achei que tivesse perdido as fotos e deixado-o de fora... Conseguiu trazer algum orange?

    Abraço, parabéns pela cobertura e tomara que esses italianos do Friuli tenham se animado em investir no Brasil.

    No total, trouxe 20 vinhos, 7 deles orange. Não eram assim tão fáceis de encontrar. Daqueles que você me indicou, só consegui os Gravner e o Vodopivec. Vamos combinar uma degustação quando você vier ao Rio ou quando eu for a Brasília. Abraços, Oscar.
    Jorge Barbosa
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    02/11/2012 Oscar.

    Na maioria das taças de brancos, não percebi a condensação do ar na parte externa. Os brancos não foram servidos a temperatura específica para eles? Ou seja entre 10 e 13ºC?

    Jorge, normalmente em degustações técnicas, os vinhos brancos são servidos a uma temperatura um pouco mais alta do que a de consumo para que se possa melhor identificar os aromas e sabores.

    Abraços, Oscar
    Eugênio Oliveira
    Enófilo
    Brasília
    DF
    02/11/2012 Fechado!!!
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]