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Uruguai
Decanter

Barrado no baile
Há alguns meses, um assíduo leitor e companheiro de muitas degustações, Fernando, contou-me de sua viagem ao Uruguai e, principalmente, sobre o novo lançamento da Bouza, o simplesmente Cocó, um branco de corte. Disse-me que sua adega estava lotada desse e de outros vinhos da República Oriental. Só que convite mesmo que é bom, nada... E eu, feito um Eduardo Dusek, fui barrado nesse baile. A conversa era só para atiçar a minha curiosidade. E isso Fernando conseguiu.

Levado pela incontrolável vontade de conhecer o novo vinho, saí a campo, em busca desse novo Graal. Como quem importa os rótulos da Bouza é a catarinense Decanter, perguntei ao sommelier Guilherme Corrêa se o lançamento já estava em sua carteira. Infelizmente não estava. Mas o gentil Guilherme me prometeu conseguir 2 garrafas - uma para ele, outra para mim. Prometeu e cumpriu e há poucas semanas recebi o inédito e esperado vinho.

E este domingo, no embalo do jogo Uruguai x Itália, escalei o vinho com o 12º jogador da Celeste Olímpica. Infelizmente, não deu sorte para nossos "hermanos"...

A melhor vinícola do Uruguai
Visitei as vinícolas uruguaias em duas ocasiões, nos anos de 2008 e 2010, fazendo parte do grupo dos Enoguaios. Nas duas vezes, estivemos na Bouza e, embora a concorrência seja acirrada, não tive dúvidas em escolhê-la como a melhor vinícola do país vizinho. Não apenas pela qualidade de seus vinhos, como também pela estrutura de atendimento aos turistas, oferecendo um restaurante de alta classe, um interessante museu de carros antigos e um belíssimo jardim. É, realmente, uma visita imperdível. E está localizada a cerca de apenas 20km de Montevidéu.

A família Bouza emigrou da Galícia para o Uruguai em busca de melhores oportunidades e estabeleceu sua empresa na cidade de Las Piedras. Atualmente, a vinícola - que continua estritamente familiar - é comandada por Juan Luis López Bouza e mantem seu caráter de boutique, com uma produção de 100.000 garrafas ao ano. Sua origem galega explica a aposta na casta Alvarinho e a elaboração do Bouza Albariño, um dos vinhos brancos mais apreciados e elogiados daquele país: raro, difícil de encontrar e elogiado até mesmo pelo mais chauvinista dos espanhóis.


História bem contada
Agora, a vinícola decidiu apostar mais alto e lançou um vinho para assumir o topo da gama branca: o Cocó. Seu nome homenageia D. Socorro López de Bouza, já falecida e mãe do proprietário da Bouza, que era conhecida pelo apelido de Cocó.

Pois Cocó tinha o hábito de misturar em suas taças um pouco de Chardonnay com outro pouco de Alvarinho. E essa foi a inspiração para a criação do corte do novo vinho. Para ser mais preciso, 70% de Chardonnay e 30% de Alvarinho. A primeira é envelhecida sobre as borras por 9 meses em barricas de carvalho, enquanto que a segunda fica esperando em tanques de inox. O vinho provado foi da safra 2010, a primeira a ser elaborada.

Ao final do processo, foi obtido um vinho espetacular, com o discreto teor alcoólico de 12%. No visual, a cor é um apetitoso amarelo-ouro. No nariz, a Chardonnay predomina, o que não é de se estranhar por sua maior participação na fórmula e sua passagem em madeira: o primeiro ataque a sensibilizar os nervos olfativos é o caramelo, abundante e dominante, mas que vem acompanhado por um inebriante aroma floral. Seguem, mais discretos, o mel, a baunilha e toques de pêssego e de grapefruit. Na boca, uma acidez viva a embalar um magnífico corpo, untuoso e com permanência invejável. Se há algum defeito no vinho, é o excesso de madeira, que fica alguns pontos acima do que eu gostaria de encontrar.

Conforme expliquei anteriormente, a Decanter não importa esse vinho e acredito mesmo que nem venha a importá-lo, visto que sua produção é de cerca de apenas 1600 garrafas. É muito pouco... Até no Uruguai não é assim tão simples encontrá-lo: ou você compra na própria vinícola - onde eles fazem jogo duro para vender mais de uma garrafa - ou você dá a sorte de ele ainda estar à venda no "free shop" do Aeroporto de Carrasco, onde custa 42 dólares.

Oscar Daudt
01/07/2013
Comentários
José Luis Doldán
Enófilo uruguaio
Rio de Janeiro
RJ
01/07/2013 Caro amigo da República do Piratini.

Tu não bebeste este caldo antes, gurí, só porque não marcaste comigo pra bebê-lo, como combinamos no dia do aniversario do Joubert, tchê! Lembra que você falou sobre o vinho e eu disse que tinha uma garrafa na minha adega? Lembra que você perguntou se eu não te "vendia" o mesmo??? Então você lembra da resposta que ganhou e que por razões de auto-censura não vou publicar.

O vinho estará ainda repousando na minha adega, à espera de uma boa oportunidade para bebê-lo, que certamente não vai faltar.

O meu também é um 2010 e te confesso que não tenho pressa alguma em bebê-lo. Ele tem uma longa vida por diante, que certamente a passagem em madeira lhe proporcionará. Para te dar uma ideia, bebí ha uns dias um Preludio Branco ano 2002 (são 11 anos!!!) e estava ótimo. A ideia dos dois vinhos é mais ou menos a mesma...

Doldan, lembra que o dia do aniversário do Joubert foi quando eu perdi meu celular dentro do táxi? Com isso, eu fiquei focado nesse problema e não lembrava de mais nada daquela dia. Mas é bom saber que você tem uma garrafa e vai me convidar... Não a abra sem mim!

O Preludio é outro dos brancos uruguaios que estão na minha lista de preferidos! Ô vinho bom! Abraços, Oscar
Carlos Stoever
Advogado e enófilo
Porto Alegre
RS
01/07/2013 Olá, Oscar!

Este vinho é realmente muito bom e já frequenta minha adega há mais de ano, rsss...

Se o amigo quiser, consigo na fronteira e envio!

Forte abraço!

Valeu, vou te escrever por email. Abraços, Oscar
Carlos Alberto Amorim Jr.
ABS-Brasília
Brasília
DF
01/07/2013 Comprei uma garrafa 2011 no duty free de Montevidéu, em março deste ano, e custou US$ 36,00, por causa dos descontos concedidos.

Pelas informações do Doldán, já vi que ele poderá repousar por muito tempo aqui na adega.
Guilherme Corrêa
Sommelier
Blumenau
SC
01/07/2013 Caro Oscar,

Fico feliz que tenha apreciado mais este tesouro da Bouza! Vamos ver se conseguimos importar alguma coisa...

Grande abraço e obrigado!
Fernando Dias Lima
Enófilo amador
Rio de Janeiro
RJ
01/07/2013 Grande Oscar,

O objetivo era mesmo atiçar sua curiosidade!!! Hehehe. Bem, rendeu também esta bela matéria!

Ainda tenho uma garrafa dele guardada, vamos bebê-la? Vou continuar minhas explorações pelo universo dos brancos e tentar aguçar outras vezes sua curiosidade...

Brincadeiras de lado, trata-se realmente de um vinhaço. O Uruguai nos surpreende com belos brancos como este e o já comentado Prelúdio. Os fãs dos brancos só têm a agradecer aos Hermanos!

Grande Abraço,

Fernando, não ofereça duas vezes! Abraços, Oscar
Sylvio Reis
Administrador
Porto Alegre
RS
16/10/2013 Daudt, comprei neste final de semana, 5/Out, na fronteira Jaguarão/Rio Branco, o Cocó safra 2011, garrafa 333 de 1680. Com desconto de 5% no cartão Neutral, saiu por $46,55. Havia apenas + 2 garrafas.

Compartilho contigo uma curiosidade: esta safra 2011, carrega no rótulo álcool de 14%!! Sim, 2% a + que a safra comentada no post "com o discreto teor alcoólico de 12%".

Me leva crer, que algum americano influente bebeu a safra inaugural e o Sr.Bouza acatou o feedback e conferiu mais "corpo" a Sra. Cocó. Espero, não tenha matado os já discretos 30% de Albariño.

Estou mais tendencioso a seguir o conselho do Sr.Doldán e aguardar um tempo adegando, mas me pergunto o quanto? Gostaria de deixar a Cocó descansando e acordá-la entre a maturidade elegante da Chardonnay, o álcool (novo) já mais integrado, e a Albariño ainda apurando certo frescor, honrando assim a memória da Sra. Cocó e seu assemblage original.

Daudt, considerando que bebestes o 2010, qual seu palpite de apogeu para este 2011, considerando o novo álcool e a safra?

PS: Dizem, los uruguayos, que a safra 2011 é histórica, coisa não vista em pelo menos 2 décadas!

Abraço,
Sylvio Reis

Sylvio, se você resistir, acredito que um ano de espera fará muito bem... Abraços, Oscar
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]