
Pablo Morandé é um dos nomes mais importantes da enologia do Chile. Por muitos anos, foi o enólogo principal da Concha y Toro e um dos responsáveis pelo salto de qualidade - e de porte - dessa vinícola, onde foi o criador do cultuado vinho Don Melchor.
A esse enólogo credita-se também a "descoberta" dos vales de Casablanca e de Leyda, atualmente endereços dos mais importantes vinhedos de castas brancas do Chile.
Inquieto e com espírito empreendedor, Pablo deixou o conglomerado para criar sua própria vinícola - obviamente, a Viña Morandé - e desenvolver alguns dos mais revolucionários e apreciados vinhos chilenos.
E esta semana, esteve no Rio de Janeiro o enólogo Ricardo Baettig, atual diretor técnico da Morandé, para apresentar seus vinhos à imprensa do Rio de Janeiro. Com um sobrenome assim diferente no convite, foi fácil lembrar do enólogo da Viña Errázuriz, Francisco Baettig. E quando o conheci pessoalmente, então, não restava mais dúvidas, pois é cara de um, focinho do outro. Ricardo me esclareceu que os dois são irmãos. Só podia...
Pois o irmão recém-conhecido tem uma história interessante: trabalhou como enólogo no Chile, na Viña Estampa, e depois decidiu viajar para a Itália, onde atuou por 4 anos no Vêneto e mais 4 anos na Toscana. Só voltou ao Chile para se casar com uma conterrânea e assumir o controle da Morandé. Mas o período italiano deixou suas marcas, pois os vinhos que ele agora elabora em sua terra natal têm a potência dos Amarones equilibrada pela elegância dos Brunellos.
Iniciamos experimentando um Morandé Sauvignon Blanc Reserva 2011, delicioso, com um acidez aguda, bem do jeito que minha gastrite não aprecia, mas que eu adoro. Mais comportado, seguimos com o outro branco do almoço: o Morandé Chardonnay Grand Reserva 2011, um vinho elegante, floral e cheio de fruta, com discreta madeira, já que apenas 33% usa barricas novas e o resto passa por aquelas de 2º, 3º, 4º uso e assim vai. Mas a grande notícia sobre esse vinho é que, em sua safra 2012, 40% do vinho ficará em contato com as cascas durante 20 dias. Sem conhecer, já prevejo que será uma maravilha! Quem viver, verá...
Para acompanhar o prato principal - no meu caso, uma trilogia de cordeiros - 3 vinhos. Um para cada pedaço da tríade? Não, nada a ver... Dos três vinhos, dois me alçaram ao Nirvana: o Morandé Syrah Gran Reserva 2009, é um gigante, escurão, concentrado, mentolado e floral.
Já o Morandé Carignan Edición Limitada 2009 merece uma introdução. Essa casta foi introduzida no século passado, no Chile, com o objetivo de dar cor e estrutura aos vinhos comuns elaborados com a País. Pois foi - mais uma vez! - Pablo Morandé que as "descobriu" no Valle de Loncomilla e decidiu promover o resgate da uva. E hoje em dia, existe o Clube da Carignan, composto por 14 vinícolas associadas - só gente boa - dedicado a produzir um vinho de classe mundial com a Carignan. E os resultados são animadores: o exemplar da Morandé é sedutor, cremoso, com muito frescor e bela estrutura, com toques de baunilha, avelãs e frutas negras. E seu preço até que nem assusta: na promoção da Expand, R$103,60.
O grand finale foi com o House of Morandé 2006, corte de muito Cab Sauv, um pouco de Cab Franc e menos ainda de Carignan. Esse é um dos grande ícones chilenos, portentoso, mas seu preço - esse sim, assusta - R$236 na promoção e não é para qualquer bolso.
Conheci o jovem chef Ricardo Lapeyre há mais de um ano, quando este comandava as criações do Buffet Voilà (clique aqui para recordar). Mas desde que ele se mudou, de garfo e faca, para o Laguiole, ainda não havia tido a chance de reencontrá-lo.
Pois essa foi a oportunidade e Ricardo deu um show! Tudo muito bonito, tudo muito delicado e tudo muito gostoso. Não foi a toa que Ricardo foi escolhido, por 8 dos 10 votos dos jurados da Veja Rio, como o chef revelação de 2013. Ele merece!
Oscar Daudt
16/07/2013 |