
Feliz da importadora que conta com um sommelier como Guilherme Corrêa: por duas vezes escolhido como o Melhor Sommelier do Brasil, ele é um poço de conhecimentos. Está certo, há muitos outros tão bem formados quanto ele, mas Guilherme consegue aliar a sua capacidade à uma facilidade em transmití-los de forma interessante, com histórias pitorescas, sem afetação e com uma simpatia encantadora. E o almoço oferecido pela Importadora Decanter, comandado por Guilherme, transcorreu em clima muito agradável e de muita conversa boa.
Como era um dia chuvoso e a Sociedade Hípica Brasileira fica perto de onde moro, achei razoável quebrar minhas normas de prudência e ir de carro. E lá fui surpreendido por uma seleção de nada menos do que 13 vinhos para acompanhar os pratos! E, mais problemático ainda: eram vinhos "incuspíveis"! Mas tudo bem, ao final cheguei em casa sem problemas...
A magnífica seleção do sommelier não deixa dúvidas sobre suas preferências: todos os 13 vinhos eram do Velho Mundo - França e Itália tomaram conta de nossas taças, mas havia também exemplares da Alemanha, Eslovênia e Portugal. Foram 1 espumante, 5 brancos (um deles laranja, oba!), 6 tintos e um vinho de sobremesa.
Guilherme contou que recentemente fez uma inventário dos rótulos da importadora e chegou à impressionante cifra de 1.212 vinhos! E disse também que a Decanter já se impõe como a principal importadora de vinhos laranjas no Brasil, que tiveram uma aceitação que surpreendeu até mesmo a cúpula da empresa. E isso graças a Stefano Zannier, o friulano que dá consultoria à casa e é fã e amigo dos principais produtores de sua região.
Os destaques dos destaques |
A escolha do sommelier era impecável, apostando muito mais nas novidades, nas castas que correm por fora e nas surpresas, do que na tradição pura e simples. E eu me arrisco a escolher os destaques dentre os escolhidos por Guilherme.
O explosivo início foi com a nova aposta da Decanter para se firmar no mercado de espumantes de alta gama, enfrentando com ousadia a hegemonia de Champagne. A marca Ferrari - o nome já ajuda! - do Trentino, será trabalhada intensivamente utilizando as mesmas armas de marketing que a região francesa lança mão há décadas, com a distribuição de taças, baldes e "otras cositas más" para conquistar o coração dos consumidores. O produto em si faz bonito: o Ferrari Perlé Nero Espumante Brut 2004, um blanc de noirs com 60 meses sobre as leveduras, era um espetáculo e não foram poucos os que optaram, ao final do almoço, para fechar o ciclo de volta ao começo.
Dos 5 brancos, um era meio-doce e eu nem quis provar. Mas os 4 outros eram espetaculares, cada um com seu estilo bem diferente dos demais: o frescor do Greco di Tufo, a suprema elegância do Condrieu, o exotismo do Vitovska e a inesperada concentração do Pacherenc já fizeram a minha alegria. Quatro vinhos imperdíveis!
Nos tintos, o "Óscar" vai para o requinte do Pinot Noir alemão, que, segundo Guilherme, é o melhor exemplar dessa casta que ele conhece fora da Borgonha. E contou-nos que seus vinhedos são ainda mais dramáticos (foto à direita) do que os do Douro, emprestando extrema elegância e frescor ao vinho.
Outro momento inesquecível entre os tintos foi o nosso conhecido português da Quinta de Foz de Arouce, um Baga domesticado com um pouco de Touriga Nacional, que mais parecia um halterofilista vestindo um terno de Armani.
Oscar Daudt
07/11/2013 |