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O sul do norte
Saint-Péray é uma pequena denominação francesa, localizada no extremo meridional do Rhône Norte. São apenas 70 hectares dedicados, exclusivamente, às castas brancas e, somente, duas variedades - sem exceções - são permitidas na denominação: a Roussanne e a Marsanne.

As determinações de Saint-Péray não especificam o percentual de cada uma das duas variedades, mas a Marsanne é mais popular entre os produtores por ser mais fácil de cultivar, mais produtiva e menos suscetível aos fungos do que a Roussanne, muito embora esta produza vinhos mais elegantes. De qualquer forma, o mais usual é encontrar as duas castas juntas e misturadas em cada garrafa. Seus vinhos mais conhecidos são os espumantes elaborados pelo método tradicional, mas é cada vez mais fácil de se encontrar vinhos tranquilos de alta qualidade.

Enquanto que nos dias atuais, os vinhos de Saint-Péray sejam virtuais desconhecidos no mercado internacional, a região já teve seus tempos de glória. No século XIX, seus espumantes eram mais apreciados do que os de Champagne e frequentavam as mesas das casas reais europeias. Reza a lenda - e o marketing também - que esse foi o primeiro vinho bebido por Napoleão, ainda cadete, e que Wagner compôs Parsifal aos goles de Saint-Péray. O advento da filoxera, no entanto, atingiu dramaticamente a região, que nunca mais voltou a seu apogeu. Apesar disso, em 1936, a denominação foi uma das 9 primeiras estabelecidas na França.

O mago do Rhône
Jean-Luc Colombo é uma lenda viva no sul da França e é unanimemente consagrado como o responsável pela revitalização da denominação de Cornas, com seus poderosos vinhos feitos com a nobre Syrah.

Mas o produtor não se restringe a Cornas e elabora vinhos em praticamente todas as denominações do Rhône setentrional, avança para o sul, em Châteauneuf-du-Pape e chega até a Provence, sua terra natal.

Explica o sommelier Guilherme Correa: "Ouso definir o estilo de seus vinhos como de extrema elegância, aptidão gastronômica e modernidade na medida certa."

A bela de maio
Jean-Luc fincou suas raízes em Saint-Péray, com a aquisição de um cobiçado vinhedo de Roussanne, com 80 anos de idade. Temperou essa preciosidade com 10% de Marsanne apenas, e batizou as 5.000 garrafas produzidas com o poético nome de La Belle de Mai.

O vinho passa 12 meses em barricas novas de carvalho francês, quase imperceptíveis, assim como também passa desapercebido o elevado teor alcoólico de 14%.

O visual é um espetáculo e seus 6 anos de vida se revelam em uma cor de ouro velho que, de imediato, já despertou minhas papilas. No tentador nariz, aromas de lavanda, avelãs, pêssego e muita mineralidade prenunciam uma suntuosa cremosidade, uma viva acidez, uma boca seca, uma estrutura de concreto armado e um prolongamento que nos traz o caramelo e mais uma vez o pêssego.

Para os aventureiros que buscam novas emoções, novas origens e novos conhecimentos, eis aí uma excelente recomendação para ser experimentada ainda neste verão. O vinho é importado pela Decanter e seu preço é de R$139,50.

Oscar Daudt
16/01/2014

Comentários
Eugênio Oliveira
Enófilo
Brasília
DF
17/01/2014 Colombo é muito bom, seu Cornas "les Ruchets" 2004 é uma pérola!
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
17/01/2014 Oscar,

Confesso que ainda não tive a oportunidade e o prazer de degustar algum vinho originário de Saint-Péray. Quando estudei as regiões do Rhône, fixei-me nas mais conhecidas e é por onde hoje transito.

A região Rhône-Alpes, no departamento de Ardéche, onde localiza-se Saint-Péray, chamou-me a atenção quando assisti ao documentário "A Caverna dos Sonhos Esquecidos" (Cave of Forgotten Dreams), do diretor alemão Werner Herzog, onde a Caverna Chauvet está localizada. Em 1994 foram encontradas, nesta caverna, as mais antigas manifestações artísticas e artesanais dos humanos, que por lá passaram há 32000 anos atrás, no final da era Paleolítica Média.

Hoje, na região, são mantidas reservas naturais e parques ecológicos e é onde está implantada, em ambiente climatizado, reserva natural vegetal e animal, das regiões tropicais do planeta.

Em Saint-Péray, a formação geológica é rochosa granítica, e principalmente calcária; o vento Mistral sopra forte, influenciando continentalmente as temperaturas mediterrâneas para baixo. Os principais produtores do Rhône setentrional tem vinhedos, das uvas Marsanne e Roussanne, plantadas em pequenas parcelas nas íngremes encostas que margeiam a cidade. Remontam à época dos romanos as construções históricas, como o Le Château de Crussol, no ponto mais alto da cidade. Convido a um passeio de burrico pela encosta de acesso ao Château, clicando aqui.

Com vinhos exclusivos, de produções restritas e preços acessíveis, sem falar da inigualável gastronomia francesa, Saint-Péray entrará no circuito vínico do enófilo brasileiro.

Obrigado, Oscar, por promover nossa formação em enofilia.
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