
Domingos Alves de Sousa é um dos mais prestigiados produtores portugueses, tendo sido o único a ser distinguido pela Revista de Vinhos como o Produtor do Ano em duas edições: em 1999 e em 2006.
Engenheiro formado, Domingos abandonou a carreira em 1987 para se dedicar à vitivinicultura, tradição em sua família em terras do Douro. Mas sua primeira decisão foi a de deixar de ser um fornecedor de Vinhos do Porto para grandes exportadores, passando a se dedicar ao desenvolvimento de vinhos tranquilos do Douro. Atualmente, Domingos planta 130 hectares de vinhas, em 5 quintas:
Quinta da Aveleira: foi aqui que nasceu Domingos; muito embora tenha sido herdade por outro ramo da família, Domingos mais tarde a comprou de volta; situada em cotas altas, é a aposta do produtor para as uvas brancas;
Quinta das Caldas: com 6 hectares, também foi adquirida por Domingos, e tem uma importância histórica por ter pertencido à famosa D. Antonia, a Ferreirinha;
Quinta da Estação: são 4 hectares de excelente exposição debruçados na margem direita do Douro;
Quinta da Gaivosa: a mais emblemática das propriedades do produtor, possui 25 hectares com vinhas de mais de 60 anos e foi onde tudo começou e onde está localizada a adega;
Quinta do Vale da Raposa: contígua à Gaivosa, esta quinta possui 12 hectares de vinhas velhas e 6 hectares de vinhas mais recentes.
Domingos conta com o auxílio luxuoso de seu filho Thiago, enólogo residente, formado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e com a consultoria de um dos mais reputados enólogo portugueses, Anselmo Mendes.
Nossa confraria, o Bonde do Vinho, decidiu andar nos trilhos e dar um passeio pelos rótulos de Domingos. Escolhemos uma amostra significativa do que de melhor o produtor elabora, deixando de fora, no entanto, seu vinho emblemático, o Abandonado, para que a conta não ficasse muito salgada, tendo em vista o alto preço desse vinho (R$557,90).
Como Domingos não elabora espumantes, escolhemos para abrir os trabalhos um rótulo de seu enólogo Anselmo Mendes, Muros Antigos Bruto Natural 2006 (R$133,30). Esse vinho tem um corte que mais parece um hino a Portugal, misturando a tinta Alvarelhão com a branca Alvarinho, num contraponto às onipresentes castas de Champagne. Curioso vinho...
Em seguida, escolhemos dois brancos, de idade já mais avançada: o Branco da Gaivosa Reserva 2007 (R$165,20) é um corte 34% Arinto, 33% Malvasia Fina, 33% Gouveio que demonstrou um certo cansaço e não foi bem recebido pelo grupo; já o complexo e evoluído Reserva Pessoal Branco 2005 (R$219,20), com Gouveio, Malvasia e Viosinho, dividiu as opiniões do grupo, com alguns reprimindo a falta de acidez, mas que me encantou com seus toques amendoados, uma madeira elegante e um corpo sedutor e cremoso.
O primeiro tinto foi o Vale da Raposa Reserva 2010 (R$77,30) é um gostável e acessível corte em partes iguais de Tinto Cão e Touriga Nacional, com uma boca generosa e cheia de frutas maduras.
No segundo tinto, o Quinta Vale da Raposa Grande Escolha 2006 (R$193,40), a coisa começou a ficar mais séria e esse corte de Touriga Nacional, Tinto Cão e Touriga Franca encantou com seu corpo robusto, um frescor elegante e um comprimento de boca invejável.
Mas a ginginha do bolo foi mesmo o espetacular Quinta da Gaivosa Vinha de Lordelo 2007 (R$425,90), um complicado corte de tudo o que Domingos encontrou em uma vinha quase centenária, de baixíssimo rendimento - 10% Sousão, 10% Tinta Amarela, 20% Touriga Nacional, 30% Tinta Roriz e 30% de outras castas - que nasceu da insistência do produtor, que explica: "É sem dúvida um daqueles casos em que a frieza dos números há muito que haveria aconselhado o arrancar e o plantar de uma nova vinha. Mas se assim tivesse sido nunca teríamos tido a oportunidade de fazer e apreciar este vinho." Denso, profundo, encantador, com uma elegância discreta e uma estrutura tânica a segurar todas as pontas. Pena que é tão caro...
Oscar Daudt
08/06/2014 |