
Anselmo Mendes é um dos enólogos mais respeitados de Portugal, tendo sido escolhido, em 1998, como o Enólogo do Ano, pela Revista de Vinhos, e em 2010 como o Produtor do Ano, pela mesma publicação. E, no início deste ano, foi condecorado pelo Presidente de Portugal com a Comenda do Mérito Agrícola.
Mas não se deixem enganar: chamá-lo de "monovarietal" é uma homenagem e não uma informação, visto que o mesmo é consultor em múltiplas vinícolas portuguesas - e até algumas brasileiras - e elabora vinhos com castas diversas. Mesmo em sua própria vinícola, Anselmo diversifica com as castas Loureiro e Avesso. Mas é com a Alvarinho, casta de seu coração, que ele gosta mesmo de trabalhar. E faz isso com paixão, atingindo um nível de excelência como ninguém mais no mundo! Anselmo nos contou que há mais de 20 anos estuda a utilização da madeira com a casta Alvarinho.
Esta semana, o enólogo esteve no Rio de Janeiro para apresentar seus vinhos em um almoço, no Rancho Português, oferecido pela Importadora Decanter.
Surpreendentemente, o abre-alas da tarde foi um vinho tinto, contrariando a ordem mundial. Era o Pardusco Vinho Verde Tinto 2012, um corte das cômicas castas Alvarelhão, Pedral, Cainho, Borraçal e Vinhão. Não gostei e nem me surpreendi com isso, pois até hoje nunca tive o prazer de provar um Vinho Verde Tinto que me agradasse. E nem compreendo por que insistir em vinhos tintos, dificilmente aceitos pelos consumidores, numa região que elabora brancos excepcionais e internacionalmente respeitados.
Mas daí para frente, foi só "love"!
Como que a provar que não era "monovarietal", Anselmo iniciou o desfile de vinhos brancos com o Muros Antigos Escolha 2013, corte que traz sua favorita Alvarinho misturada com Loureiro e Avesso. E prosseguiu com um varietal de Loureiro, o Muros Antigos Loureiro 2013. Essa casta, até 1970, era pouco disseminada na região dos Vinhos Verdes, quando então um ressurgimento levou-a a se espalhar e se valorizar, tanto em cortes quando em varietais. Seu nome deriva de seus característicos aromas de louro, acompanhados por uma miríade de outros aromas frutados e florais. O maior trabalho do enólogo com ela é evitar seus exageros aromáticos.
E então passamos a uma caravana de Alvarinhos. Foram 5 vinhos 100% varietais com que o enólogo exibiu sua desenvoltura ao tratar dessa casta. 5 vinhos, 5 estilos! Madeira, sem madeira; com curtimenta (contato com as cascas), sem curtimenta; barricas novas, barricas usadas; barricas grandes, barricas pequenas... Incrível como a mesma casta, proveniente da mesma região, sob os cuidados do mesmo enólogo pode resultar em 5 vinhos de personalidades distintas e marcantes.
O preferido dos participantes do almoço foi o Parcela Única 2009, proveniente de um só vinhedo, que fermenta e estagia com suas borras por 9 meses em barricas novas de carvalho francês e que o enólogo descreve como a "apologia da elegância".
Mas o meu coração bateu mais forte foi mesmo com o Curtimenta 2011, que fermenta com as cascas e depois estagia por 9 meses em barricas usadas. Como consequência, as notas de madeira são bem mais discretas de que seu rival das barricas novas acima. Pude constatar que os pacientes 20 anos de estudos sobre a combinação "Alvarinho e madeira" não foram em vão e dá a impressão de que Anselmo atingiu a perfeição nesse tema. A cor é mais intensa - embora ainda muito longe de ser um laranja - e discretos taninos dão o ar da graça. Um vinhaço!
Oscar Daudt
05/04/2015 |