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    Quando se ouve falar em Albariño, a primeira informação que vem à mente do enófilo é aquele vinho branco produzido em Espanha, mais precisamente na região da Galícia. Quem assim pensa não está de todo equivocado, uma vez que os albariños correspondem a cerca de 70% da produção da principal Denominação de Origem galega, a D.O. Rías Baixas, e são considerados os melhores vinhos brancos espanhóis.

    Porém, não por acaso - Galícia está separada do norte de Portugal pelo rio Miño - esta maravilhosa casta também é a base dos famosos vinhos verdes do norte português, gerando uma eterna disputa entre galegos e minhotas sobre quem faz o melhor albariño.

    Fora da Península Ibérica, dois países do Novo Mundo vem se empenhando nos últimos anos no desenvolvimento desta uva. Nos Estados Unidos, a albariño começa a se destacar em diversos lugares, da Virgínia ao Oregon, e já ocupa uma considerável área de vinhedo na Califórnia. Desde que a Qupé Wine Cellars plantou seu primeiro lote de albariño nos anos 90, outras áreas a seguiram e atualmente podemos ver albariños produzidos em Napa, Monterrey, Paso Robles e Carneros, entre outras zonas californianas.

    Na Austrália, alguns produtores dos vales de Barossa e McLaren importaram cepas européias e começaram a cultivá-las com sucesso. O que a maioria deles não esperava era que a uva plantada não era albariño, mas savagnin blanc, como posteriormente foi provado por ampelógrafos. Apesar do incidente, alguns produtores se salvaram e estão produzindo ótimos albariños na região de Adelaide.

    Mas, é em sua Galicia natal que a albariño se sente à vontade e apresenta sua melhor forma. Muito cedo, os viticultores locais perceberam o enorme potencial desta uva que, no passado, já foi confundida com a Riesling. Há muitas décadas já faziam vinhos de albariño ali e, em 1980, criaram uma Denominação Específica Albariño que derivou, em 1988, para a atual D.O. Rías Baixas. Naquele ano, a região contava com 955 viticultores e 30 bodegas em sua totalidade. Atualmente, estão registrados na D.O. 6577 viticultores e 201 bodegas produtoras, muitas delas elaborando verdadeiras jóias da enologia.

    A melhor maneira de saber qual o melhor albariño é provando e, a Confraria dos Enófilos sem Fronteiras se reuniu na última semana para uma degustação de oito exemplares de albariños (alvarinhos, para os irmãos lusos), servidos às cegas. O primeiro lugar do pódio foi ocupado pelo fantástico espanhol Pazo de Señorans 2006, seguido de perto pelo uruguaio da Bouza, a sensação da prova. Foi uma noite para terminar com qualquer discussão. Santé!
     
    Vinhos da prova
    1° lugar
    Pazo de Señorans Albariño 2006

    D.O. Rías Baixas - Espanha
    Nota: Amarelo palha brilhante. Nariz complexo, frutado(pêra, lychia, pêssego, grapefruit), flores brancas, mel. Paladar redondo, potente, com ótima acidez. O melhor vinho da degustação, para a maioria que participou do painel.
    91 pontos
    Onde: Mistral (Tel: 21 2274 4562)
    2° lugar
    Bouza Albariño 2006

    Canelones - Uruguai
    Nota: Cor amarelo palha. Intenso ataque aromático, inicialmente mostrando notas florais, e evoluindo para camadas de frutas diversas(grapefruit, pêra, goiaba branca). Paladar estruturado, boa acidez e um final cítrico. Ficou em segundo lugar na preferência dos participantes e foi a grande surpresa da degustação, por se tratar de um exemplar não-íbérico.
    90 pontos
    Onde: Decanter (Tel: 47 3326 0111)
    2° lugar
    Soalheiro Alvarinho Primeiras Vinhas 2006

    D.O.C. Vinho Verde - Portugal
    Nota: Amarelo palha. Nariz intenso, complexo, frutas(maracujá, maçã-verde, grapefruit), erva-doce, eucalipto, minerais. Paladar seco, encorpado, bastante vivo e fresco. Mais um grande vinho branco elaborado pelo craque do Douro Dirk Niepoort.
    90 pontos
    Onde: Mistral (21 2274 4562)
    4° lugar
    Anselmo Mendes Muros de Melgaço Colheita 2006

    D.O.C. Vinho Verde - Portugal
    Nota: Anselmo Mendes é o grande nome da região do Minho e seu Alvarinho Muros de Melgaço é considerado um dos melhores brancos portugueses. Apesar da albariño ser uma casta que prescinde de estágio em madeira, este passa 6 meses em barricas. Na prova, o vinho apresentou nariz discreto, com aromas de abacaxi e pêssego. Boca elegante, untuosa, amanteigada, boa acidez.
    89 pontos
    Onde: Decanter (Tel: 47 3326 0111)
    5° lugar
    Nora Albariño 2007

    D.O. Rías Baixas - Espanha
    Nota: Cor palha, com aromas minerais e de frutas(maracujá, limão, grapefruit, abacaxi) de enorme intensidade e persistência. Boca com textura oleosa, ótimo frescor e boa acidez, com um leve amargor no final. A sensação que ficou é que este vinho tem um estilo mais gastronômico que seus pares e, portanto, ganharia com alguma harmonização.
    88 pontos
    Onde: Vinci (Tel: 21 2236 5390)
    6° lugar
    Alvarinho Deu La Deu 2007

    D.O.C. Vinho Verde - Portugal
    Nota: De cor citrina, o vinho mostrou aromas intensos de frutas tropicais, mel e amanteigado. Bom frescor e acidez. É um daqueles vinhos que, por vermos em toda parte, podemos pensar que é de qualidade duvidosa, porém é um excelente exemplar de alvarinho e "brigou" em igualdade com as estrelas da prova.
    86 pontos
    Onde: Barrinhas (Tel: 21 2131 0021)
    7° lugar
    Pazo de Barrantes Albariño 2006

    D.O. Rías Baixas - Espanha
    Nota: Cor palha com reflexos dourados. Bom ataque aromático, persistente, predominando os aromas cítricos(lemon zest) e herbáceos. Bastante frutado na boca, boa acidez. Já provei diversas safras anteriores e este vinho é daqueles brancos que mostram todo o potencial no primeiro ano.
    84 pontos
    Onde: Expand (Tel: 11 3847 4700)
    8° lugar
    Irvine Albariño 2008

    Barossa Valley - Austrália
    Nota: O outro "forasteiro" da prova foi um australiano da família Irvine, famosa em seu país por seus excelentes tintos da uva Merlot. O albariño mostrou uma cor citrina, quase transparente. Nariz ligeiro, com aromas de pêssegos, cítricos(casca de limão, abacaxi) e amêndoas. Na boca, repetiu as notas olfativas, porém com menor intensidade e persistência. Ótima acidez.
    83 pontos
    Onde: Irvine Wines (Tel: 61 8 8564 1046)
    Comentários
    Larissa Bettú
    Enófila
    Garibaldi
    RS
    30/04/2009 Cesar,

    Tenho acompanhado teus textos e confesso que é com prazer que saboreio as linhas que escreves aqui, em especial por se tratar da Espanha, terra que admiro demais, tanto pelas paisagens quanto pelos excelentes vinhos.

    Adorei encontrar hoje essas ND sobre vinhos elaborados com a Albariño, pois esta é a casta que pretendo abordar no próximo encontro da confraria de que faço parte!

    Vou seguir tuas "dicas" e gostaria de saber alguns outros nomes espanhóis que achas interessante para incluir nessa lista, já que este é o teu "chão".

    Obrigada desde já!
    Márcio Bastos Martins
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    30/04/2009 Cesar,

    No início deste ano a Mistral fez uma promoção para vinhos com rótulos com algum defeito. Aproveitei e adquiri alguns vinhos e, dentre eles, o Pazo Señorans 2002. Apesar da safra, o vinho estava com ótima acidez e com paladar redondo. Vale cada centavo!

    Abraço e parabéns pelos belos artigos.
    Aguinaldo Aldighieri
    Rio de Janeiro
    RJ
    01/05/2009 Os Albariños e Alvarinhos foram muito bem escolhidos.

    O Alvarinho "Muros de Melgaço" do Anselmo Mendes é excelente. O Alvarinho "Deu La Deu" tem ótima relação qualidade/preço. O Albariño uruguayo da Bouza é realmente fantástico. Deliciei-me com ele em várias refeições quando estive no Uruguay em fevereiro, inclusive no almoço na bodega-boutique Bouza. Pelo que sei é o único albariño produzido na América do Sul.

    Nessa degustação às cegas eu acrescentaria o também excelente albariño "Don Pedro de Soutomaior Neve", importado pela Peninsula.

    Aguinaldo
    Ignacio Carrau
    Empresario
    Rio de Janeiro
    RJ
    02/05/2009 Que maravilha!!!!

    Como e bom ver uma degustacao de 8 grandes vinhos, neste caso de ALBARINHOS, e encontrar um vinho uruguaio que surprendeu a todos conquistando o 2 lugar no Podium. Como e bom nao ver nenhum vinho sulamericano entre os 8, isso mostra que o TERROIR do Uruguai nao e so exelente para a uva TANNAT como assim para todas as mais conhecidas no mundo sempre que sejam tratadas com amor e carinho.

    Parabens a familia BOUZA por mostrar que uma familia galega pode elaborar grandes Albarinhos tambem fora de Galicia e parabens ao grande Enologo da Bouza que e o Dr. Eduardo Boido, um profissional jovem de uma competencia incontestavel que coloca o prestigio da vitivinicultura uruguaia numa posicao de privilegiada.

    Acho que na nota so faltou que colocassem os precos de cada um dos vinhos, algo que pode tambem surprender a muitos na relacao preco qualidade e deve ser divulgado sempre para o conhecimento dos consumidores.

    Saude Familia Bouza e saude ao pequeno e gigante URUGUAI que aos poucos vai mostrando o seu enorme potencial frente a grandes potencias internacionais.

    Ignacio Carrau
    Cesar Galvão
    Rio de Janeiro
    RJ
    02/05/2009 Larissa,

    Muitíssimo obrigado por suas palavras... vc não sabe como fico feliz em saber que uma Bettú acompanha esta simples coluna. Muito bom tb que vcs abordarão a albariño no próximo encontro... é uma uva que dá vinhos surpreendentes e ainda pouco conhecidos por aqui.

    Minhas dicas, além dos que utilizamos em nossa degustação, são o português Palácio da Brejoeira (Vinci), Pazo de San Mauro (Mistral) e o Don Pedro Soutomaior Neve (Península). Outro Rías Baixas bem interessante que acaba de chegar ao Brasil é o Terras Gauda, um dos melhores de lá, importado pela Épice. A única diferença para os outros é que seus albariños não são monovarietais, e levam pequenas parcelas de Loureiro, Treixadura e Caiño Blanco.



    Caro Márcio,

    O Señorans 2002 q vc degustou foi o mesmo que o nosso ou foi o Selección de Añada? Pq se o q degustamos era fantástico, este último é algo de outro planeta...



    Caríssimo Aguinaldo,

    Muito boa sua observação sobre o albariño Don Pedro Soutomaior. Só não cogitei colocá-lo neste painel pq degustamos o mesmo vinho em duas ocasiões diferentes. Em nosso jantar de final de ano da confraria, somente com vinhos espanhóis de alta gama, foi justamente o branco escolhido. E, em fevereiro, o encontro da confraria foi apenas com Champagnes e vinhos brancos e ele tb estava lá, como vc pode ver na matéria feita pelo Oscar, q participa também de nosso grupo.

    http://www.enoeventos.com.br/200901/esf8/esf8.htm

    De fato, é um vinho maravilhoso mesmo, dos meus brancos favoritos.

    Forte abraço,
    Cesar
    Ahnis Fraga
    Rio de Janeiro
    RJ
    04/05/2009 Provei certa vez, mas não apreendi as sutilezas da albariño na ocasião. Com suas dicas, Cesar, provarei um dos rótulos da degustação e sentirei o que esta casta me falará.

    Seus textos despertam minha curiosidade, leio provando!

    Parabéns!
    Ahnis
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]