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Mesmo com crise, Copa, eleições e afins, o mercado de vinhos no Brasil em 2010 cresceu. Importadoras abriram, outras fecharam, produtores chegaram por aqui, outros sumiram das prateleiras. Mas o balanço final é positivo. Tivemos mais boas novidades do que más notícias.

O ano que chega promete. Como um nefasto cartão de boas-vindas, o malfadado Selo de Controle Fiscal virou obrigação. Produtores e importadores, a partir de primeiro de janeiro, não podem mais vender vinhos sem o tal selo. Como se já não houvesse burocracia suficiente nesse país, inventaram mais uma. A desculpa oficial de que o tal selo servirá para coibir a entrada ilegal de vinhos no país não cola. Em lugar nenhum do mundo a medida funcionou. Aqui, provavelmente, não será diferente. O contrabando vai continuar, vai complicar a logística para produtores e importadores e o consumidor vai pagar o pato comprando um vinho mais caro.

Mas o objetivo deste texto é outro. É saudar os destaques de 2010, em três categorias: Vinícola do ano, Vinho do ano e Barato do ano. O regulamento é simples: a vinícola do ano é aquela que apresentou o portfólio mais consistente. O vinho do ano é o melhor que provei no ano e que esteja no Brasil. Não valem, portanto, rótulos de safras antigas ou cujo produtor não esteja no país. E o barato do ano é aquele vinho que melhor traduz a expressão custo-benefício.

Um grande 2011 para todos nós.
 
Barato do Ano
Foi um ano agitado no Chile. Teve terremoto, resgate heróico de mineiros, aumento no valor das exportações de vinho e muitas outras coisas. Os independentes seguem a toda, produzindo os rótulos mais interessantes que o Chile tem para mostrar. E vem de lá o Barato de 2010. Um vinho produzido pela Agricola La Viña, de Sven Bruchfeld e Gonzalo Muñoz, a mesma vinícola que faz o Polkura, um dos grandes syrahs do Chile.

Aylin Sauvignon Blanc 2009
Vale de Leyda, Chile
Aylin significa "claridade" e "transparência". Daí a razão do nome deste sauvignon blanc feito em San Antonio, no vale de Leyda, em pequena quantidade (apenas 5.950 garrafas), da Agricola La Viña. Nariz intenso, com notas de frutas cítricas e tropicais, como abacaxi, papaia e um toque de manga, e ainda notas minerais. Na boca, médio corpo, muito frescor, bom volume e um final de média persistência e relativamente doce.
Nota: 8,5
Preço médio: R$ 42
Onde: Premium
Vinho do Ano
A Quinta do Carmo é um lugar espetacular, de uma beleza rara, ao lado de Estremoz, no coração do Alentejo. Repleto de mármores, azulejos e outras obras de arte, era ali que Dom João V escondia a cortesã Dona Maria, por quem estava perdidamente apaixonado. É ali que Júlio Bastos faz os vinhos da Dona Maria. E que vinhos. Toda a linha merece atenção. Mas um rótulo, em especial, é fora de série. O Julio B. Bastos 2004 é feito com vinhas velhas de alicante bouschet feito em homenagem ao pai de Julio. A pisa é feita em lagares de mármore, onde o vinho fermenta e depois vai para estágio de 14 meses em barricas novas de carvalho francês. Esteja onde estiver, o senhor Julio B. Bastos deve estar pra lá de orgulhoso com a homenagem do filho. Foram feitas apenas 2,6 mil garrafas deste tinto.

Julio B. Bastos 2004
Alentejo, Portugal
Embora seja francesa de origem, a alicante bouschet é uma uva alentejana por adoção. Para muitos (eu, inclusive), é a grande uva do Alentejo. Basta provar este vinho para entender a razão. Rico e intenso no nariz, com notas de frutas negras, especiarias, alcaçuz, um toque balsâmico e evolução para chocolate amargo e café. Na boca, concentração e potência se aliam a uma elegância rara em vinhos da região. Taninos macios, muito volume e um final longo e que deixa saudade. Já está perfeito, mas ainda tem estrutura para agüentar muitos anos em garrafa. Se for beber agora, decante.
Nota: 10
Preço: R$ 560
Onde: Decanter
Vinícola do Ano
Demorou, mas os vinhos da Clarendon Hills finalmente chegaram ao Brasil. E foi uma importadora nova, a Viníssimo, uma grata novidade no mercado, quem trouxe estas pequenas jóias produzidas pelo figuraço Roman Bratasiuk. O portfólio impressiona: são todos, sem exceção, vinhos para serem bebidos de joelhos. O destaque é o monumental Astralis 2007, um dos melhores tintos do mundo.

Clarendon Hills Astralis 2006
Mc Laren Valley, Austrália
Este é um sinônimo perfeito de vinho enorme. Os aromas deste syrah podem ser sentidos a quilômetros de distância. Cassis, amora, mirtilo, especiarias, baunilha, chocolate, cravo, café. Vai tudo aparecendo, aos poucos, à medida que o vinho vai abrindo. Mas é a boca mesmo que dá a noção exata do tamanho deste vinho. Tem corpo, concentração, potência, vigor, volume. Tudo isso combinado a uma acidez precisa que evita com que o vinho pese. E um final que vai tão longe quanto os aromas. Um vinho perfeito.
Nota: 10
Preço médio: R$ 2.150

Clarendon Hills Astralis 2007
Mc Laren Valley, Austrália
Shiraz de vinhedo único, com vinhas plantadas em 1920. Um dos melhores vinhos do mundo, ainda um bebê. Nariz rico e intenso, com notas de frutas negras como ameixa, amora, mirtilo; alcaçuz, alcatrão, café, chocolate, especiarias e um toque de tostado. Na boca, é superlativo, com taninos muito finos, acidez perfeita, encorpado, com muito volume, harmônico, e um final enorme e que não sai da memória. Outra obra de arte do Sr. Bratasiuk.
Nota: 10
Preço médio: R$ 2.150

Clarendon Hills Hickinbotham Syrah 2007
Mc Laren Valley, Austrália
Syrah de vinhedo único, rico e intenso no nariz, com notas de amora, mirtilo, cassis, especiarias e um toque de carne. Na boca, é encorpado, com taninos finos, bom volume, acidez no ponto e final longo e que remete a frutas negras maduras. Pede carne.
Nota: 9
Preço médio: R$ 515

Clarendon Hills Moritz 2007
Mc Laren Valley, Austrália
Provar os tintos de Roman Bratasiuk é uma aula sobre terroir. Embora os vinhos sejam feitos pelo mesmo cara, com a mesma filosofia e as mesmas uvas, são completamente diferentes entre eles. Reflexo do terroir. Por este motivo, o australiano é ferrenho defensor dos vinhos de vinhedos únicos. Palmas pra ele. Este tem nariz rico e intenso, característica comum a todos os vinhos da Clarendon. Mas em vez de amora e mirtilo, são as especiarias que dominam os aromas. Com evolução para fruta em compota, chocolate e couro. Na boca, menos potência e vigor e mais elegância do que o Hickinbotham, e um final igualmente longo e arrebatador.
Nota: 9,5
Preço médio: R$ 386

Clarendon Hills Romas 2007
Mc Laren Valley, Austrália
Melhor do painel com os seis grenaches apresentados por Roman Bratasiuk, vinho de vinhedo único com vinhas plantadas em 1925. Rico e intenso no nariz, com notas de cereja madura, framboesa, amora e cassis, com delicados aromas de ervas finas e evolução para chocolate e café. Na boca, tem boa estrutura, elegância, taninos finos, volume, equilíbrio, acidez perfeita e um final longo e com gosto de cerejas em calda.
Nota: 9,5
Preço médio: R$ 515

Clarendon Hills Hickinbotham Grenache 2007
Mc Laren Valley, Austrália
Grenache de vinhedo único, com vinhas de quase 90 anos. No nariz, amora madura, mirtilo e aguardente de cerejas. Na boca, impressiona pela qualidade dos taninos, tem boa acidez, bom corpo, volume e um final longo e elegante.
Nota: 9
Preço médio: R$ 300

Clarendon Hills Hickinbotham Cabernet Sauvignon 2007
Mc Laren Valley, Austrália
Cabernet-sauvignon de vinhedo único, rico e intenso no nariz, com notas de cassis, espresso, especiarias, cereja em calda e um toque terroso. Na boca, é intenso, com volume, muito corpo, taninos presentes, sedoso e muito longo.
Nota: 9
Preço médio: R$ 344
Comentários
João Luiz Caputo
Médico
Niterói
RJ
02/01/2011 Achei interessantes as dicas, principamente o branco com um bom custo benefício. Quanto ao melhor do ano, vou deixar para experimentar quando eu viajar a Portugal, ou melhor, quando eu puder juntar alguns amigos e compartilhar a garrafa e a conta.

Um grande abraço.
Jorge Barbosa
Enófilo
Niterói
RJ
02/01/2011 R$2.150,00 no Brasil e na Wine.com, 175 dólares.
Cláudio Rangel
Contador
Resende
RJ
02/01/2011 ESPERAVA MUITO MAIS... DESCULPE, LALAS, MAS DEIXOU MUITO A DESEJAR. MINHA OPINIÃO.
Marco Antonio Lucarelli
Engenheiro
Campinas
SP
02/01/2011 Creio que a Austrália ainda precisa ter muita história de cultivo de uvas para vender um vinho por R$ 2.150,00.
Marcus Coelho
Engenheiro
Niterói
RJ
03/01/2011 Queira me desculpar, mas que lista simplória. Pelo valor do vinho mais caro, acho que se pode comprar outros tão bom ou melhores que este.
Marcelo Gil Dutra Baltar
Chateaux des Montagnes
Petrópolis
RJ
03/01/2011 ACHO QUE, POR MELHOR QUE SEJA O VINHO, NÃO VALERIA 2.150,00 PARA UM AUSTRALIANO. POR ESSE VALOR TOMARIA UM BORDEAUX OU BORGONHA DE ALTO NÍVEL.

TIRANDO O BRANCO, QUE EU CONCORDO, OS OUTROS VINHOS TINHAM QUE SER AVALIADOS NUMA FAIXA DE PREÇO MAIS ACESSÍVEL (EX: MELHORES VINHOS ATÉ 300,00).
Antonio Carlos Ferreira
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
03/01/2011 Caro Alexandre,

É possível saber o volume de vendas do vinho Clarendon Hills Astralis 2006 e 2007 no ano de 2010?

Acho também que o Oscar poderia nos oferecer um trabalho indicando quais importadoras fecharam e suas razões.

Antonio Carlos, eu posso responder a sua pergunta. Estive na apresentação dos vinhos da Clarendon Hills e lá fiquei sabendo que do Astralis 2007 foram importadas apenas 12 garrafas. Na reportagem que eu fiz sobre o evento (clique aqui para recordar) relato que fiquei assustado com o despropositado preço e questionei os importadores. A resposta que me deram é que, das 12 garrafas importadas, já haviam sido vendidas 8. Impressionante, não?

Abraços, Oscar
Alexandre Lalas
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
03/01/2011 Bom, vamos por partes:

O Vinho do Ano foi decidido da seguinte maneira: Quatro rótulos disponíveis no Brasil, entre os quase 3 mil vinhos que provei em 2010, receberam a nota máxima: Os dois Astralis (06 e 07), o Julio B. Bastos 2004 e o champanhe Cuvée William Deutz 1998. Entre eles, o de preço mais baixo era o Julio B. Bastos, por isso, ficou com o prêmio de Vinho do Ano.

A Vinícola do Ano foi escolhida por conta da qualidade do portfólio, o preço dos vinhos não foi levado em conta. Além dos disponíveis no Brasil, tive a oportunidade de provar outros cinco rótulos da Clarendon Hills. Todos receberam notas de 9 para cima. Acho que esse fator é um claro exemplo da espetacular qualidade do que é feito.

Sobre os preços dos vinhos, realmente é triste que custe tão caro aqui no Brasil vinhos que podem ser comprados por menos da metade do preço em outros mercados. Mas o fato, como bem lembrou o Oscar, é que mal chegam aqui, os vinhos esgotam. E a lei de oferta e demanda é que dita os rumos do mercado.

Sobre os prêmios, são apenas três categorias, e de forma proposital. Lista dos melhores já há muitas no mercado. A revista Decanter faz, a Wine Spectator também e aqui no Brasil, o Marcelo Copello publica uma excelente e rica lista, o TOP 200, extremamente completa. Por isso, pelo segundo ano consecutivo, faço apenas esta pequena distinção dos melhores vinho, vinícola e custo-benefício.

Minhas desculpas a quem esperava uma lista mais abrangente. E um feliz 2011 a todos. Abraços.
Marcelo Copello
Jornalista
Rio de Janeiro
RJ
03/01/2011 Caro Lalas, acho que sua lista está perfeita, pois cumpre o que promete e segue os seus critérios.

Quanto ao Astralis, é um vinho excepcional. Se vale o preço é sempre discutível, principalmente no Brasil, onde o preço dos vinhos é absurdo.
João Alfredo de Mendonça
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
03/01/2011 Lalas, me lembro de no ano passado você ter indicado a Viña Von Siebenthal como vinícola do ano, e eu no decorrer de 2010 ter provado quase todos os seus vinhos, e todos excelentes, em especial o Parcela 7, o Carabantes e o Montelig (o Toknar está na adega aguardando mais um par de anos). Os ora indicados, salvo o branco, realmente são muito caros.

Parabéns pela resposta polida e educada aos que não gostaram.
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
03/01/2011 Lalas,

As escolhas dos melhores do ano trazem junto a elas opiniões controversas, polêmicas, contestatórias e irônicas. O que sempre se insinua é a existencia de cartas marcadas.

O julgamento de qualidade de qualquer natureza está sujeito ao componente da subjetividade. Nenhuma premiação deixa de ser tambem política.

O critério de premiação pelos vinhos mais bem pontuados e disponíveis, dentro do universo dos degustados por você, ao meu ponto de vista, é parcial, pois deixa de levar em consideração dois importantes fatores que são o preço e a liderança setorial do premiado.

Este artigo exprime a sua opinião pessoal e não o considero como avaliação crítica e formador de opinião.

Abraço, Rafael
Paulinho Gomes
Empresário
Visconde de Mauá
RJ
05/01/2011 Lalas, parabéns pela indicação e classificação dos vinhos e vinícola do ano. Em outubro visitei a vinícola Quinta do Carmo e provei o Julio B. Bastos 2004. Perfeito.

Também estive no lançamento do Clarendon Hills e fiquei impressionado com o preço. Realmente qualidade e preço nem sempre andam juntos, mas o mercado seleciona o que quer. Guardo até hoje uma garrafa autografada. Gostei das duas classificações

Feliz 2011. Abraços.
Paulinho Gomes
Cristina Neves
Assessora de imprensa
São Paulo
SP
10/01/2011 Querido Lalas,

Parabenizo-o pela escolha dos "melhores do ano", dando oportunidade a pessoas, vinhos, vinicolas e importadores diferentes dos convencionais, sem desmerecer o trabalho de quem quer que seja. Em nome da Vinissimo, importadora da Clarendon Hills, e do proprio Roman, aquela figura única, quero te agradecer pela escolha.

Um forte abraco,
Cris Neves
Lilian Boden
Consultora
Rio de Janeiro
RJ
15/01/2011 As dicas, Lalas, são excelentes. Mas aproveito para deixar uma indicação desta Vinicola Australiana, talentosa, consagrada, e muito premiada, que faz vinhos fantasticos, podem comprovar, e os preços estão pra lá de bons! Onde? ZAHIL IMPORTADORA

"McLarenVale d'Arenberg "

"The d'Arry's Original" Grenache/Shiraz 2006 R$ 88
"The Coppermine Road" Cabernet Sauvignon 2005/2006 R$ 259
"The Ironstone Pressings" Grenache/Shiraz/Mourvèdre 2005/2006 R$ 259
Gustavo Silveira
Enófilo
Niterói
RJ
24/01/2011 A lista é muito boa, sujeita à críticas como qualquer lista de "mais mais".

www.gustavinho.net
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]