
Ao longo da década de 60, a Companhia Vinícola Rio-Grandense estava focada na produção que garantisse maior participação no mercado dos vinhos finos, aqueles elaborados de uvas viníferas, sem contudo abandonar a produção predominante dos vinhos comuns.
Seria uma transição para uma nova composição de produtos na qual os vinhos finos fossem alcançando expressão numérica de crescente importância. Nesta fase, foram lançados muitos rótulos novos como o Granja União Grand Rouge e o Granja União Champanha, ou reformulados rótulos tradicionais como o Granja União Moscato Seco.
O cenário nacional exibia o predomínio marcante da produção de vinhos de mesa, mas vinha ganhando novas nuanças com o redirecionamento pequeno de empresas vinícolas para a produção de vinho fino, procurando preencher uma demanda nacional, com grande potencial.
No final da década de 60, foi admitido na Companhia o engenheiro agrônomo Onofre Pimentel que se revelaria um dos expoentes da viticultura nacional, verdadeiro garimpador de terrenos mais adequados à formação de vinhedos com castas viníferas. Enviado para estudos na França, compreendeu a natureza e a vital importância das viroses que coexistiam com a nossa viticultura, sem um combate frontal. Em 1970/71, Onofre Pimentel coordenou a importação de 150 variedades européias e incrementou os viveiros da Granja União, em Flores da Cunha e, juntamente com o Dr. Danilo Callegari, formou a dupla responsável pelos grandes vinhos do auge da Empresa.
Quando tomaram conhecimento de um relatório do Ministério da Agricultura, sinalizando como locais de melhor clima para as viníferas, entre outras, as terras de Piratini, Pedras Altas e Pinheiro Machado, rastrearam toda aquela parte gaúcha, circulando por caminhos precários e campo aberto, em 20 dias, de jeep Willys, levantando relevo, solo e micro-clima.
Em 1976, inicia o plantio de uma coleção de viníferas na propriedade que a Companhia havia adquirido no ano anterior, no município de Pinheiro Machado, criando o famoso Vinhedo São Felício: 1976 - 1,5 hectares; 1977 - 2,5 hectares; 1978 - 4 hectares.
A Martini & Rossi exerceu influência significativa quando resolveu trabalhar o mercado brasileiro de vinhos finos. Como já havia tradição de relacionamento comercial, não foi difícil que, em 1969, viessem a estabelecer parceria na qual a Companhia Vinícola responderia pela parte industrial até o engarrafamento e a Martini & Rossi faria a rotulação e a comercialização, sob rótulo Château Duvalier, marca própria da multinacional.
O auge da Companhia Vinícola ocorreu ao longo da década de 1970, devido a dois fatores:
1°) o excepcional sucesso de vendas no mercado nacional da linha de vinhos de mesa Castelo, enquanto que no estado do Rio Grande do Sul, este papel cabia ao vinho rotulado como Sulino; isto foi possível pela estrutura comercial muito bem montada nos grandes centros consumidores, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Rio Grande, etc, voltada exclusivamente para a venda de vinhos de mesa.
2°) o fabuloso acordo com a Martini & Rossi, pelo qual todo volume do vinho fino de nível intermediário, Château Duvalier, seria vinificado pela Companhia; concorreu para o sucesso que este rótulo rapidamente alcançou na liderança nacional de vendas.
Esses dois respeitáveis volumes de vinho, somados aos outros rótulos de vinhos de mesa (Parreira, Campeiro e Vencedor) e finos (Granja União e Quinta do Monte), garantiram à Companhia Vinícola, uma participação de 12% no mercado nacional.
Sérgio Inglez de Souza é editor do blog Todovinho, ex-presidente da SBAV, escritor e um dos especialistas em vinhos mais respeitados do Brasil
25/04/2013 |