
O Velho Mundo contra o Novo Mundo |
A cada vez que um produtor do Novo Mundo vem apresentar seus vinhos aqui no Brasil, há sempre novidades: outros vinhos, outras castas, outros rótulos... E essas novidade vêm a se somar a uma carteira usualmente já bastante extensa.
Por outro lado, os produtores do Velho Mundo, principamente os mais tradicionais, chegam trazendo apenas mais do mesmo. O que muda são apenas as safras.
E qual é a melhor estratégia? Essa não é uma pergunta assim trivial, pois traz envolvidos diversos fatores, principalmente históricos e me parece que ambos estão cobertos de razão. Os produtores europeus já vêm há séculos experimentando com vinhos e uvas e atualmente já têm uma noção bem definida daquilo que podem oferecer de melhor. Para que mudar, se já fazem a excelência?
Já os novos-mundistas têm um longo percurso pela frente, desbravando regiões inexploradas, pesquisando as castas que mais se adaptam, qual o estilo de vinhos que podem fazer melhor. É, portanto, compreensível que a cada visita tenham sempre surpresas a oferecer.
E um exemplo disso ficou evidente na recente visita de Pio Boffa, proprietário da Pio Cesare, cultuada vinícola do Piemonte, localizada a um passo do centro de Alba. No espetacular almoço oferecido pela importadora Decanter no restaurante Cipriani, o produtor trouxe para apresentar aos cariocas os mesmos vinhos que havia oferecido há um ano, em outro almoço (clique aqui para recordar). Mudaram apenas as safras e, para alguns vinhos, nem isso...
E precisa mudar? Eu respondo com um sonoro NÃO! Os vinhos continuam a ser "estrepitosos", segundo as palavras de Pio Boffa, e ano que vem, quando ele retornar ao Rio, seus rótulos ainda irão nos surpreender e a nos maravilhar. Sempre e mais...
Conforme explicou o produtor, o Piemonte é a terra dos vinhateiros e os enólogos desempenham um papel secundário. "Aqueles que pensam diferente, ainda não compreenderam o espírito da região", concluiu o divertido Pio. Segundo ele, no Piemonte o que vale é ter as boas encostas para produzir as melhores uvas. E o vinho se faz por si próprio.
De alguma forma, durante o almoço, a conversa chegou à recente viagem que fiz ao Friuli e provoquei o produtor contando que os friulanos afirmam produzir os melhores vinhos brancos da Itália. Quando eu pensei que ele iria montar num porco caçador de trufas, para minha surpresa, ele concordou: "O Piemonte produz os melhores tintos italianos; o Friuli, os melhores brancos!" E o mais surpreendente foi que essa conversa se passou enquanto degustávamos o extraordinário Pio Cesare Piodilei Chardonnay 2009, um dos mais suntuosos vinhos brancos da bota!
Oscar Daudt
23/11/2012 |