
Em novembro do ano passado, a Importadora Barrinhas fez o lançamento festivo da água mineral portuguesa Pedras Salgadas, em um almoço no Giuseppe Grill (clique aqui para recordar), com presença dos representantes do fabricante.
Pois bem, só agora, 5 meses depois, é que a importadora conseguiu finalmente internalizar o produto, atrasado pela doentia burocracia brasileira. A demora foi tanta que esta semana a importadora resolveu comemorar, novamente, a efeméride, desta vez no restaurante Vieira Souto. E lá estavam, outra vez, os representantes portugueses.
Durante o novo jantar comemorativo, sentei-me ao lado de Carlos Moura, que havia conhecido em janeiro de 2012. Naquela época, Carlos estava criando a Importadora Lusovini, para trazer os vinhos por ele desenvolvidos em Portugal (clique aqui para relembrar). Contou-me ele que, apesar de estar fazendo um investimento de 200.000 dólares em nosso país, enfrentou as maiores dificuldades legais para transpor todas as barreiras criadas pelas autoridades brasileiras e levou mais de 2 anos para conseguir todas as devidas autorizações. No entanto, feliz, ele comemorava a instalação da importadora, que teve de ser rebatizada para Brasvini: "Agora não falta mais nada; é só começar a vender."
Muito embora o tema do jantar fosse a deliciosa e salgadinha água mineral, foram os vinhos que fizeram a grande alegria da noite. Quatro exemplares para encher as taças e os sentidos. Vejam só:
Alvarinho Deu-la-deu Estagiado 2010 |
Apesar do improvável nome, o Alvarinho Deu-la-deu é um dos vinhos mais conhecidos e prestigiados que chegam a nosso mercado, diretamente do Minho. Mas para mim foi uma grande surpresa saber que existia a versão com estágio em madeira: o Alvarinho Deu-la-deu Estagiado 2010, elaborado pela tradicional Adega Cooperativa Regional de Monção. Todas as poucas experiências que tive com Alvarinhos assim elaborados, foram extremamente positivas, com a passagem em barricas emprestando uma complexidade que faz muito bem à casta. E esse exemplar do Deu-la-Deu manteve a escrita e me trouxe agradabilíssimas sensações: com aromas cítricos e a discreta madeira, a boca traz frescor, volume e um agradável toque de frutas secas. Excelente, é importado pela Barrinhas, e seu preço de venda ao consumidor é de cerca de 80 reais.
Quinta dos Pinhanços Altitude 2009 |
No início de 2012, conheci o espetacular Quinta dos Pinhanços Encruzado, um vinho elaborado pelo cultuado enólogo Álvaro de Castro para a Lusovini (por aqui, leia-se Brasvini). Foi paixão à primeira vista por esse vinho que agora chega a nosso mercado por cerca de 90 reais. Mal podia imaginar, no entanto, que existia uma versão ainda mais sensacional desse vinho: o Quinta dos Pinhanços Altitude Encruzado. O crítico Rui Falcão, presente ao jantar, disse que em sua opinião as 3 melhores castas brancas portuguesas são a Encruzado, a Alvarinho e a Loureiro. Eu já radicalizo e digo que a melhor casta branca portuguesa é a Encruzado e não tem para mais ninguém! E o Altitude é a mais pura tradução da casta, explicitando seu caráter exuberantemente mineral, seu invejável corpo e sua capacidade de envelhecimento. Um vinhaço!
No entanto, alegria de pobre dura pouco e eu quase caí da cadeira quando perguntei o preço: 300 reais! Atônito, comentei que seria difícil vender um vinho branco por esse preço, por melhor que ele seja. Mas a resposta do importador foi surpreendente: "Eu não estou preocupado em vender esse vinho, pois a quantidade disponível é mínima." Conclusão: é vinho apenas para o topo da pirâmide! Ainda bem que eu já provei a minha porção...
Pedra Cancela Touriga Nacional 2010 |
Mais um dos excelentes rótulos da Brasvini esperando para serem conhecidos por aqui. Outro exemplar do Dão, assinado pelo enólogo João Paulo Gouveia. O vinho é 100% Touriga Nacional, com estágio de 16 meses em carvalho francês e americano. Vinho imponente, concentrado e delicioso, foi escolhido, em 2012, pela Revista de Vinhos, como um dos melhores exemplares do Dão. O preço é de cerca de R$200 para o consumidor final.
Quinta do Pessegueiro 2010 |
Se, à mesa, a meu lado direito estava o importador Carlos Moura, do outro lado sentava-se o enólogo João Nicolau de Almeida. De importante linhagem, o jovem profissional da Quinta do Pessegueiro é neto de ninguém menos do que Fernando Nicolau de Almeida, o criador do Barca-Velha. Quanta responsabilidade!
Mas João nem parece se importar com a carga genética e quer apenas desempenhar com afinco suas tarefas na quinta localizada em Ervedosa do Douro, onde conta que joga nas 11 posições, nesse projeto do empresário francês Roger Zannier. São apenas 2 vinhos, com produção total de 70.000 garrafas: o Aluzé (que significa simplesmente "a luz é...") e o esplêndido Quinta do Pessegueiro 2010, que foi o vinho que provamos. Importado pela World Wine, custa cerca de R$160 aqui no Brasil.
Mas nada como conversar com o enólogo diretamente para descrever seu vinho: "A Touriga Nacional empresta os taninos, a Touriga Francesa oferece o volume de boca, a Tinta Roriz traz aromas deliciosos e as Vinhas Velhas completam o conjunto com complexidade e originalidade. O resultado é um vinho com muita fruta, muito frescor, aromas terrosos e uma mineralidade difícil de se encontrar no Douro", explicou João Nicolau.
Oscar Daudt
04/05/2013 |