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A mais recente reunião de nossa confraria, os Enófilos sem Fronteiras, foi excepcional. Por sugestão do presidente, César Valle, o tema foi os tão falados vinhos laranjas. Eu, um grande apreciador, fiquei tão entusiasmado com a ideia que convidei os confrades para nos reunirmos em minha casa: nada mais apropriado do que beber vinhos laranjas em Laranjeiras, abençoados pelo Cristo Redentor.
Muito se fala nesses vinhos, mas pouco se bebe. Dos 9 participantes do encontro, 7 nunca haviam provado nenhum. E tiveram um batismo de fogo para ninguém botar defeito: foram 2 vinhos da Itália, 1 do Brasil, 1 da Argentina, 1 do Chile, 1 da Eslovênia e 1 proveniente do berço dos vinhos laranjas, a Geórgia.
Foram surpresas para todos e até eu - que já conhecia 4 dos vinhos da noite - tive o prazer de ser apresentado a alguns deliciosos rótulos.
Para se encarar vinhos assim tão distantes da curva normal - mais parecendo terem sido vinificados em outro planeta - é necessário mente aberta. Não se pode procurar aromas, sabores e estilos que nos são familiares. Deve-se aproveitar a diversidade.
Cores lindas, vinhos espetaculares |
O primeiro vinho a ser provado foi um choque cultural: o Domínio Vicari Riesling Itálico 2009, elaborado na improvável Praia do Rosa, em Imbituba-SC, foge de todos os padrões. As uvas Riesling Itálico são plantadas em Monte Belo do Sul, na Serra Gaúcha, e levadas para a beira do mar para serem vinificadas em uma garagem, literalmente falando. Ser batizado em vinhos laranjas iniciando com este exemplar não é fácil e grande parte do grupo não se deixou conquistar. "Incompleto!", disse um; "Diluído!", afirmaram outros.
Eu, entretanto, gostei. A cor era - disparada - a mais bela de todos os 7 vinhos provados, com um inesperado acobreado, luminoso, transparente, apesar de não sofrer filtração. Os aromas traziam cítricos e florais, era o mais seco de todos, levemente oxidado e com brilhante acidez. Se não fosse o baixíssimo teor alcoólico - apenas 10% - eu bem poderia dizer que estava bebendo um Jerez Fino. Custa 50 reais e eu recomendo a todos conhecer esse legítimo exemplar garagístico brasileiro. Mas, de novo, eu alerto: mente aberta!
Seguiram 3 vinhos que já foram alvo de matérias específicas aqui no EnoEventos: o Zidarich Malvasia 2010, o Inéditos Brutal 2011 e o De Martino Viejas Tinajas 2012. Três deliciosos exemplares!
Um excepcional momento foi o esloveno, o Simcic Teodor Belo Selekcija 2008, corte de 60% Ribolla Gialla, 20% Pinot Grigio e 20% Friulano, com uma elaboração complicada: cada variedade é vinificada de forma diferente e apenas a Ribolla é mantida em contato com as cascas. O resultado é um nariz que mistura damasco, avelãs e grapefruit e uma boca maravilhosa, com toques de caramelo, inquieta acidez e um comprimento imbatível.
Gravner é Gravner! E falar do Gravner Anfora 2005 é um exercício de futilidade. Mas é um vinho para quem pode, com sua etiqueta de 433 reais!
Com o Pheasant's Tears 2009 - curioso nome que se traduz por Lágrimas do Faisão - quem ficou assustado fui eu: super-tânico, refletindo o ancestral método de vinificação empregado na Geórgia, em que até os engaços são colocados a fermentar. Mas já a partir do segundo gole passei a me relacionar melhor com o vinho e pude apreciar os aromas cítricos, de nozes e vegetais que introduziam uma boca seca, com bela acidez e longa permanência. Estranho, mas já adquiri o gosto.
Oscar Daudt
12/02/2014 |
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